segunda-feira, 3 de junho de 2024

AVENTURA-TESTE + VÍDEO SAHARA 300 - Viajamos 2.500 km para testar a Sahara e comparar com a Yamaha Lander e XRE 300

 

 

Já faz muito tempo que eu queria rever o gigantesco espetáculo das Cataratas do Iguaçu, com toda sua força e beleza. Com o lançamento da nova Honda XRE Sahara 300, resolvi usar a moto e percorrer os 1.200 km que separam Atibaia (SP) e Foz do Iguaçu (PR). Queria chegar na rodovia BR 469, conhecida como a Rodovia Das Cataratas, que tem seus primeiros quilômetros dentro do Parque Nacional do Iguaçu – o que seria uma ótima oportunidade para uma viagem teste. 

Além de avaliar a moto na estrada, fui visitar os amigos Edgard Cotait (que me acompanhou com a sua Yamaha Lander) e o João Batista de Lima, morador de Matelândia (PR). O João tem uma Honda XRE 300. Cada um deles poderia pilotar a nova moto e também emitir a sua opinião. O trajeto conta com estrada, muito asfalto e também off-road, ideal para quem busca emitir sua opinião sobre a nova moto da Honda.

Usei a versão mais completa Adventure (a mesma que testei no lançamento em Recife, mostrada na edição 581), o modelo – tem preço praticado entre R$ 33 e R$ 39 mil. Estava também equipada com bauleto, um acessório original vendido separadamente (por R$ 600) que se mostrou útil cabendo muita roupa, tênis e outros apetrechos. Apenas a máquina fotográfica foi na mochila. Equipamentos eletrônicos não devem ser transportados em bauletos – pois a vibração pode danificar os circuitos e outros componentes sensíveis.

Mesmo saindo de Atibaia logo cedo o sol já estava forte e castigando, seriam mais de 400 km pela frente até Garça. De lá segui para Jundiaí, depois Sorocaba até atingir a Rodovia Castello Branco. Fui até o final da estrada e no trajeto pude avaliar o desempenho da Sahara. Com o limite de 120 km/h, optei por viajar no limite da moto (em alguns trechos batendo mais de 139 km/h). Nessa situação o motor (que tem potência máxima de 24,8 cv) é bastante exigido e trabalha acima dos 8.500 rpm.

Apesar da proteção do para-brisa, equipamento original na versão Adventure, a viagem se torna desgastante e cansativa. Rodei pouco mais de 230 km e a moto já entrou na reserva enquanto o computador de bordo mostrava a pior marca da viagem: 23,5 km/litro. Além do consumo elevado, o longo tempo de pilotagem – mais de 2 horas direto – cobrou no desconforto. Fiquei alternando a posição de pilotagem (em pé, sentado de lado, apoiando o pé na pedaleira do garupa...) enquanto o suor escorria por dentro da roupa da cordura. Estava no final do verão e a temperatura alta desidratava meu corpo. Deixando a Castello Branco para trás, rumei para Marília, onde encontrei o Edgard, perto das 14:30h, e fomos almoçar no Via Mineira, um lugar que vale a pena tanto pela comida quanto pelo visual, a viagem já começava a valer a pena...

Igreja dos Ingleses
Edgard conhece a região de Garça como ninguém e me levou para ver de perto a Igreja dos Ingleses. Testemunha de uma época em que o café era sinônimo de riqueza e ostentação a igreja parece se manter em pé por conta de um milagre. Avisos do risco de desabamento não foram páreo para a curiosidade de ver de perto uma construção no estilo gótico gregoriano tão longe da Terra da Rainha.

Para chegar até lá, rodamos alguns quilômetros por estrada de terra repleta de pedras soltas. No começo fiquei ressabiado com medo de perder o controle da Sahara, mas o passar dos quilômetros trouxe a confiança necessária e acelerei para brincar nas elevações da estrada que é um verdadeiro parque de diversões.

Num determinado trecho, “dei de frente” com um caminhão transportando cana e os freios foram necessários, a frenagem foi rápida e eficiente, sem sustos ou derrapagens desnecessárias. Aliás, o sistema ABS já se mostrava um dos grandes trunfos na XRE e se manteve na mesma linha: segura a moto em curtos espaços e permite manter total controle. Mas esse não foi o único susto da viagem... Ainda teremos o capítulo canino...

Chegando em Garça fomos conhecer o mecânico Marcelo que deu uma volta da Sahara para “matar a curiosidade”. Por falar em curiosidade, ainda tive a chance de conhecer a coleção do Mário Zapata, um acervo repleto de modelos raros. Além das motos, as histórias do Mário valem a visita. Só para você ter uma ideia, no quintal da casa temos um Globo da Morte... Era o final do primeiro dia e, na manhã seguinte tínhamos pela frente uma jornada de quase 700 km até Matelândia (PR)...

Matelândia
Acompanhado pelo Edgard Cotait e sua Lander 2023, partimos em direção a Londrina, Maringá, Campo Mourão e Cascavel. Em diversos trechos rodamos em pista dupla e com bom asfalto, porém os motores das motos seriam realmente avaliados nos (muitos) trechos de pista simples. 

Após atravessar a ponte sobre o Rio Paranapanema, na divisa entre os Estados de São Paulo e Paraná, a força da agricultura paranaense desfila na viseira do capacete. Plantações de milho feijão, soja, cana a perder de vista se misturam ao céu azul e sem nuvens no horizonte. As enormes e potentes carretas foram nossas companheiras em todo o percurso. Nas pistas simples elas exigem muita atenção do motociclista para não se colocar em situação de risco. Tanto a Sahara como a Lander têm motor de sobra para ultrapassar sem sustos, bastava calcular e acelerar para superar as carretas de até 9 eixos, comuns na região. 

Com apenas três paradas e abastecimentos percorremos o trecho que se mostrou mais desagradável na região de Maringá onde o viajante convive com trânsito travado, buracos e semáforos, some a isso o enorme calor e temos um grande cansaço. Por sorte encontramos um vendedor de fruta à beira da estrada e fizemos aquela parada estratégica com sombra, uvas e água fresca. Já refeitos voltamos para a estrada rumo ao Oeste. Quase no final do dia, com o sol se pondo no Horizonte, chegamos na simpática Matelândia. Nosso nosso amigo João Batista de Lima (e sua esposa Eliete) nos aguardavam de portas abertas.

Sorrisos e abraços nos aguardavam enquanto a cerveja gelada (para o Edgard sem álcool) regava o nosso papo. João estava curioso para pilotar a Sahara. Aventureiro veterano já deu a volta ao mundo com uma BMW R 1150 GS Adventure (ano 2004) que repousa na sala da sua casa “ela já cumpriu sua missão” afirma João que trata sua companheira de aventura com muito carinho. 
Na sua garagem estão uma BMW R 1250 GS Adventure e uma Honda XRE 300 com a qual ela percorreu caminhos inóspitos ao norte da Argentina. Para isso, João fez várias adaptações na moto e queria saber se a nova Sahara trouxe modificações que a colocam em pé de igualdade à sua XRE. Nós veríamos isso em outro dia...
Na manhã seguinte fui com o Edgard até o Parque Nacional do Iguaçu, chegando na estrada do parque as motos no estacionamento particular (ao custo de R$ 40) e muita sombra. Lembra que falei do bauleto? Pois é, ele provou sua utilidade pois guardei o capacete, jaqueta e calça e fui de tênis e bermuda curtir o passeio.

Coisa de gringo
Estive em Foz do Iguaçu há mais de 20 anos e muita coisa mudou. Os serviços ao turista estão mais profissionais e a visita ao Parque mais prazerosa. Após comprar o ingresso (nos terminais de autoatendimento) por R$ 100 basta embarcar nos ônibus e percorrer cerca de 10 km pela BR 369 até a Trilha das Cataratas. A visão das enormes quedas de água é um espetáculo inesquecível que você merece conhecer. Enquanto se caminha pela trilha, o cenário muda assim como os idiomas dos visitantes mostrando que Foz do Iguaçu é uma atração internacional. 

Os mais valentes podem fazer um tour de barco até a base das cachoeiras (Safari Macuco R$ 386) ou um passeio de helicóptero (R$ 610) para ver as cachoeiras lá de cima. Claro que tudo depende do seu tempo, gosto e bolso... 

O dia passou voando e voltamos para Matelândia, alternando a pilotagem das motos. Lembrei bastante da minha Lander (aquela do modelo antigo) e seu motor eficiente, robusto e econômico. Depois ouvi a opinião do Edgard sobre a Sahara e concordei com ele (leia box).

Tempestade
Quinta feira, logo cedo, preparamos as motos para o fora de estrada – calibragem dos pneus, nível de óleo e lubrificação da corrente. Por estradas vicinais nos embrenhamos nas montanhas que permitiam ver ao longe o enorme lago formado pela represa de Itaipu.

O piso era bem diferente da região de Garça. Pedras pontudas surgiam em meio a terra vermelha que exigiam um certo cuidado na escolha do caminho. Contando com rodas de aro 21 na dianteira e pneu Metzeler Karoo 90/90 consegui vencer os obstáculos enquanto ouvia a pancadas das pedras no protetor de motor e o curso de suspensão dianteiro de 245 mm tornava a missão de chegar ao Morro do Espigão do Norte bastante tranquila. 

Em determinado momento a dianteira saiu de frente e achei que cairia. Estava tranquilo em relação ao tanque e a carenagem (por conta do protetor) mas confesso que senti falta do protetor de mão e manete com “picote” para que, em caso de queda, se rompa e não danifique o reservatório do fluido de freio. Outra critica vai para a ausência de sanfona de proteção das bengalas da suspensão. Se eu comprasse uma Sahara, investiria nesses componentes...

Eu de XRE
Troquei de moto e fui pilotando a XRE do João... Que moto acertada, ela mostra que o trabalho na suspensão faz toda diferença na pilotagem off-road. Outro detalhe legal são as pedaleiras largas que permitem apoiar a planta dos pés com mais naturalidade. Enquanto fazíamos a gravação no alto do morro o céu foi ficando escuro prenunciando tempestade forte. Veja no box a opinião do João sobre a Sahara. 

“Vamos descer rápido, esse tipo de tempestade traz raios e granizo” disse o João que acelerou forte no caminho de volta. Chegamos à cidade em meio a poeira levantada pelo vento e sentindo a forte queda de temperatura. Mais uma vez fiquei confiante no conjunto ciclístico da Sahara, principalmente os freios.

Na manhã seguinte tomamos café com nossos anfitriões e partimos de volta para Garça. Dessa vez experimentamos o conselho do João e parávamos de hora em hora, a viagem demorou mais – cerca de 12 horas – mas chegamos descansados e com um menor consumo de combustível (veja box abastecimento).

No dia seguinte, fiz o trajeto solitário para a minha casa e, numa estrada tranquila em Duartina levei o maior susto da viagem. Um cachorro pequeno, com coleira, entrou correndo na estrada e cravei a mão no freio. Imediatamente o sistema ABS entrou em ação, enquanto a moto perdia velocidade, tive tempo de avaliar qual seria a atitude do cachorro. Por sorte ele parou, olhou com aquela cara de pouco caso e voltou para a calçada...  Senti muita raiva dos donos do cachorro que olhavam sem reação, eu poderia ter atropelado o cachorro e caído. Mesmo dentro do limite 60 km/h, um tombo sempre pode ter sérias consequências...

Vento contra
Na SP 369 o forte vento lateral já incomodada, mas foi na Castello Branco que ele se tornou frontal e exigiu ainda mais do motor da Sahara. Em determinados momentos, não conseguia passar dos 110 km/h por conta da força do vento contrário (veja a foto dos eucaliptos tortos...). Nessa situação nada mais restava a não ser aliviar a mão e não lutar com a natureza, não vale a pena.

Chegando em Sorocaba o vento deu lugar à chuva e, para fechar a viagem, parei na estrada, vesti a capa e segui para Atibaia. Estava tranquilo por concluir mais essa viagem-teste e ouvir outros motociclistas que tiveram a mesma opinião sobre a Sahara: é um produto moderno e adequado para uso urbano que também pode ser usado em longas viagens. Depois de 2.500 km rodados com ela eu posso afirmar isso, com tranquilidade.

Avaliação Edgard Cotait
Edgard Cotait já viajou pela maioria dos países da América, veio dos Estados Unidos até o Panamá em uma Ural com side car, já atravessou a Europa de XT 660 e rodou pela América do Sul com sua Yamaha Lander. Segundo ele o grande ganho da Sahara em relação à sua Lander é a sexta marcha “que permite viajar com maior conforto” e a precisão do câmbio “com engates mais macios e precisos”. Ele não acha que são motos que devem ser comparadas, “mas eu teria uma Sahara, o modelo me agradou principalmente na estrada, a posição de pilotagem se mostrou bem semelhante à Lander”.

Avaliação João Batista de Lima
João Batista de Lima já deu a volta ao mundo de BMW R 1150 GS, foi para os Estados Unidos de XT 660 e coleciona viagens até Ushuaia. Experiente no fora de estrada, percorre estradas e trilhas pouco conhecidas ao norte da Argentina com sua Honda XRE 300. Para João Batista a Sahara é uma evolução da XRE e traz melhorias no câmbio “que permite engate mais precisos, que são fundamentais no fora de estrada” e ganhos de suspensão “melhor calibrada, copia bem o terreno, não existe mais aquele afundamento na traseira, típico da XRE”. Apenas o pneu que não agradou ao João que prefere o pneu usado na sua XRE. O pezinho ficou muito curto, “o que dificulta a vida dos pilotos baixinhos e eu também prefiro o pneu Metzeler Sahara usado na minha XRE”.

Resumo do Consumo
Durante a viagem, fui muito criterioso em relação ao consumo e autonomia. O melhor consumo da Sahara foi de 35 km/litro rodando nas estradas secundárias, na faixa de 60 a 80 km/h sem forçar o motor. Nessa condição a autonomia supera os 400 quilômetros.
O pior consumo foi de 23,5 km/litro rodando na aceleração máxima, o aviso de reserva abriu com pouco mais de 230 km percorridos e a autonomia fica limitada a pouco mais de 300 quilômetros.  Além de doer no bolso pilotar nessa condição aumenta o desgaste de componentes como pneu, relação e, claro, aumenta o risco de acidentes. 


    Fonte: Cícero Lima / Revista Duas Rodas


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