Antecessora da XRE 300, moto foi uma das mais versáteis e completas do mercado brasileiro
Pouca gente sabe, mas o motor 250cc, quatro tempos, de quatro válvulas e duplo comando da Honda nasceu para equipar uma moto fora de estrada. O projeto dele caiu como uma luva para o nascimento, em 2001, da Honda XR 250 Tornado, grande sucesso de vendas da marca no Brasil. Só depois este motor foi adaptado a uma moto urbana, a Twister 250. Mas desde sempre ficou mais bem casado com a versão offroad.
Acho que fui o jornalista que fez mais quilometragem em cima de uma Tornado. Além dos inúmeros testes, fiz várias viagens de longa duração montado no banco estreito e duro! Em uma delas, de Natal, RN, a Salvador, BA, até contraí um matrimônio! Em outra ocasião fui até Campo Grande (MS) e entrei no meio de um rally em pleno Pantanal Mato-grossense. Também tive a chance de comparar com as principais concorrentes, desde a Yamaha XT 225 e depois com a Yamaha XTZ Lander 250, este último um teste que entrou para a história!
Desde sempre achei as motos de uso misto mais adequadas às estradas e ruas brasileiras. Lembre, apenas 13% de todas as vias do Brasil são asfaltadas. Isso mesmo, parece ficção, mas é a pura verdade. Nos 87% restantes é bom ter um veículo que enfrente bem estas condições. No caso da Tornado ela encarava tão bem o fora de estrada que várias vezes me joguei em trilhas pesadas com a moto original, sem nenhuma alteração em pneus ou relação.
Outro aspecto interessante deste modelo é seu desenho que permanece atual até os dias de hoje. Outra surpresa para quem ama a Tornado é que ele saiu de linha no Brasil em 2008, mas continuou sendo produzida até 2019 para o mercado argentino! Sim, era possível ter uma Tornado “zero km” em 2019! O que acabou com a venda da Tornado em terras brasileiras foram as regras de emissão de poluentes da PROMOT. Inviabilizou os motores com carburador e acelerou a chegada da XRE 300.
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Um item que fez muito sucesso foi o painel digital. De tão bem bolado e desenhado ele se tornou um item de customização entre as motos de outras categorias. Virou mania colocar painel de Tornado em todo tipo de moto! Por isso mesmo a Tornado foi por muitos anos uma moto muito visada pelos bandidos! Mas também porque é boa de fuga!
Como a Tornado é
A Tornado 250 é uma moto muita balanceada para circular nos ambientes urbanos e rurais. O sistema de suspensão, derivado diretamente das motocross da marca, adota o conjunto traseiro Pro-Link monoamortecido regulável, com 224 mm de curso, enquanto a dianteira tem bengalas com tubos de 41mm de diâmetro e 245mm de curso.
O mais fantástico dessa suspensão é o comportamento no fora de estrada pesado. Eu mesmo tive a chance de comprovar em várias oportunidades, especialmente no rally em pleno Pantanal. Nesta ocasião, além de provar o bom trabalho da suspensão, pude comprovar a eficiência dos pneus de uso misto – muito mais off do que on road – Metzeler Enduro 3 Sahara. Porém, no uso estradeiro estes pneus se mostraram exageradamente barulhentos. Mas neste caso não há o que fazer: para os pneus terem eficiência na terra precisam ter sulcos largos e profundos e isso causa ruído mesmo.
Neste rally pantaneiro peguei um longo trecho de areião pesado e nem sequer diminui a calibragem. Entrava e saía do asfalto para terra e vice versa várias vezes e pude confirmar o quão versátil é a Tornado. Podem ser barulhentos, mas os pneus são muito versáteis.
Se for usar a Tornado essencialmente no asfalto existem opções de pneus mais on e menos barulhentos, como o Pirelli MT 60, por exemplo. Ele oferece a versatilidade com menos ruído no asfalto.
Entre as broncas mais comuns dos donos de Tornado a altura do assento é uma das mais ouvidas. Quando nova, essa distância do banco ao solo é de 880 mm, muita coisa, o que acabou prejudicando muito a venda para o público feminino e entre os mais baixos. Como o amortecedor traseiro tem um curso bem grande, depois que o piloto assume a posição de pilotagem, a moto abaixa bastante.
Um dos destaques da Tornado é o câmbio de seis marchas, que atua como se a sexta marcha fosse uma espécie de “overdrive”. Além de manter o motor em rotação mais baixa na última marcha, ajuda bastante a melhorar o consumo. Nas dezenas de viagens que fiz com essa moto o consumo foi dentro do esperado para a categoria. A melhor marca foi de 36 km/litro rodando com toda paciência do mundo. E a pior foi de 15 km/litro quando precisei encarar mais de 1.000 km de estrada em apenas um dia de viagem.
Aliás, na viagem de Natal a Salvador passei um tremendo sufoco à noite. O farol da Tornado tem lâmpada de 35W, mas a lente pequena não espalha o facho e num trecho de rodovia sem as faixas pintadas no asfalto optei por dormir em um posto de gasolina a continuar em voo cego.
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168 km/h
Uma polêmica envolvendo essa moto foi na minha viagem até Campo Grande. Num trecho da estrada peguei uma longa descida, com uma forte ventania de cauda e o velocímetro chegou a 163 km/h. Quando este teste foi publicado na revista da MOTO! o revisor vacilou e saiu 168 km/h. Isso gerou uma comoção nas redes sociais (Orkut, na época). O que os “haters” omitiram foi a parte que eu explicava que na mesma estrada quando pegava o vento contrário a velocidade máxima não passava de 90 km/h em quinta marcha, porque se engatasse a sexta a velocidade piorava mais.
Nos testes feitos em condições normais, ao nível do mar, nos dois sentidos, a maior velocidade máxima alcançada pela Tornado foi de 142 km/h. O normal era por volta de 135 km/h. Isso pouco importa, porque este motor de 23,2 cv a 7.500 rpm tem um desempenho suficiente para uso normal e permitir uma viagem tranquila – como eu mesmo provei várias vezes. O câmbio de seis marchas ajuda nas respostas mais vigorosas. A aceleração de 0 a 100 km/h foi feita em média em 12,5 segundos.
Dois outros testes importantes realizados com a Tornado foram o de 24 horas sem parar e o de 10.000 km rodados. No primeiro teste, chamou atenção o consumo de óleo que chegou a 300 ml para 1.640 km rodados. Pode parecer alto para um motor novo, mas nos testes 24 horas a moto é submetida o tempo todo na sua aceleração máxima. Mas é bom ficar esperto e verificar o nível de óleo a cada 1.500 km.
Já no teste de 10.000 km o item que chamou atenção foi o ruído no motor. Começou dentro do normal, mas depois aumentou e as explicações passaram pelo principal suspeito que era o rolamento de virabrequim com folga ou o pino do pistão também com folga excessiva. Estes dois “problemas” foram solucionados nas Tornado mais novas. Os dois testes foram realizados em 2001 no ano do lançamento.
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Ao longo dos seus sete anos de vida a Tornado teve apenas pequenas mudanças na estética (grafismo, escapamento, o kit de plástico do tanque, mas na parte mecânica permaneceu sempre o mesmo propulsor alimentado por carburador.
Uma das reclamações mais ouvidas dos proprietários era com relação ao freio traseiro a tambor. Essa bronca aumentou quando a Yamaha lançou a concorrente Lander 250 com freio traseiro a disco. Na prática o freio da Tornado, mesmo com disco apenas na frente, é mais eficiente do que o da Lander, porque a mangueira do freio dianteiro da Yamaha é meio “borrachuda”.
O que observar?
Por ser uma moto de uso misto é importante saber se a Tornado usada frequentou muito as estradas de terra. Observe os rolamentos da caixa de direção, da balança traseira e das rodas. Os aros são de alumínio, um dos charmes dessa moto, verifique se estão sem amassados ou tortos.
A suspensão traseira pode ficar cheia de barulhos se não for feita a manutenção periódica. Basta subir na moto e forçar pra baixo em busca de ruídos. Também é bom trocar o óleo das bengalas se a moto avaliada tiver mais de 30.000 km.
Os preços variam de R$ 6.500 a R$ 13.500 (em São Paulo). Difícil é achar uma em estado original porque esta é uma das motos com mais equipamentos de personalização do mercado, principalmente o escapamento. Alguns de muito bom gosto, mas muitos de gosto bem duvidoso. É quase uma raridade encontrar uma Tornado com escape original. Outro desafio é encontrar com menos de 50.000 km rodados porque é uma moto feita pra viajar, mas com sorte tem até com 20.000 km rodados.
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo – quatro tempos, monocilindro, arrefecido a ar, quatro válvulas, duplo comando no cabeçote.
Cilindrada – 249 cc
Diâmetro/curso – 73x59,5 mm
Potência – 23,2 CV a 7.500 RPM
Torque – 2,41 Kgf.m a 6.000 RPM
Taxa de Compressão – 9,3:1
Alimentação –carburador 30 mm
Câmbio – seis marchas; embreagem acionamento mecânico
Transmissão – coroa, corrente (com O-rings) e pinhão
Quadro - tubular semiduplo de aço
Suspensão dianteira – garfo telescópico regulável. 245 mm
Suspensão traseira – monoamortecedor Pro-Link 224 mm
Distância entre eixos – 1.414 mm
Freio dianteiro – disco
Freio traseiro – tambor
Pneu dianteiro – 90/90-21
Pneu traseiro – 120/80-18
Comprimento total mm – 2.130
Largura total mm - 829
Altura do assento – 840 mm
Peso seco – 131 kg
Tanque – 11,5 litros
Consumo de combustível – 25,5 km/litro (média geral)
Velocidade máxima (declarada) – 130 km/h
Fonte: Motoo.com.br
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