Nesse último meio século, vivemos
profundas alterações na sociedade. Do Regime Militar ao celular; da chegada à
Lua (?) à multiplicação de religiões; do Aero Willys à internet... Essas
mudanças alcançaram a vida de cada brasileiro, direta ou indiretamente. Mas,
observo que algo precioso tem sido esquecido numa prateleira empoeirada da
mente, ou até mesmo no lixo das prioridades. Trata-se do temor.
Temer é muito mais que ter medo
ou receio, e sim possuir um profundo respeito ou mesmo reverência diante de algo ou alguém maior e importante.
Esse é o princípio da obediência (também olvidada) que gera a competência
(outro habitante do lixo das escolhas pessoais). Quero dizer que o respeito é a
base da obediência. É esse tipo de obediência que faz nascer no ser humano a
disposição para ser competente no que é e no que realiza. E isto implica em
conhecer, encaixar-se e subir na hierarquia que solidifica as possibilidades de
bem-estar social.
Alguém disse que essa é a base do
Exército: hierarquia e obediência. Sim, elas são criticadas (sempre foram!);
mas, sem elas, as forças armadas não existiram e nem alcançariam gruas de
competência progressiva, na honra da farda que usam. Atrevo-me a considerar que
a falta delas é que tem prejudicado as relações sociais, inclusive na Igreja,
no lar, no país... Por isso não é novidade que o calcanhar de Aquiles do
qualquer organização continua sendo o relacionamento interpessoal.
A autoridade do líder religioso
tem sido progressivamente minimizada pela própria comunidade de fé. Tornou-se
muito mais jogo de acomodações mútuas, evitando-se confronto, onde todos mandam
em nome de Deus. Para não perder as benesses do poder, tais líderes se amoldam
aos “donos” das igrejas. Evitam expor as verdades bíblicas que porventura
causem mal estar diante do erro. Usam e distribuem máscaras de adoradores. Isto
gera uma fé incompetente.
No lar, a situação se repete.
Numa época em que o Estado intervém na inviolabilidade do lar, ser pai e mãe tornou-se, também, uma aventura de
negociações sobre quem manda em quem. O temor (respeito e reverência) aos pais
foi trocado por discussões, desobediência, desrespeito, ameaças ou outras
formas de violência... A família passou a usar máscara que escondem a carência
de afetos. Isto gera um amor incompetente.
E nas demais esferas da sociedade
brasileira nada mudam. Sumiu o respeito a qualquer autoridade: ao professor,
policial, ancião, menor idade, motorista, servidor público, conjugue...
Estádios (ou arenas) lotados gritam palavras obscenas. Vândalos quebram
patrimônio alheio. Queimadas destroem vidas. Assassinatos são encomendados por
menos de cem reais. Incompetentes politicamente apadrinhados chefiam cargos
públicos. Bandidos exibem amas na mídia e na cabeça do trabalhador. Políticos
zombam da Lei e continuam roubando todos os dias. E milhões de máscaras do
atual frenesi hedonista são usadas e veiculadas online. Isto gera uma sociedade incompetente.
A Bíblia diz que o “temor ao
Senhor é o princípio da sabedoria”. Mas, está faltando esse temor aos pais e
filhos, governantes e governados, jogadores e torcida, políticos e eleitores,
legisladores e magistrados... Sem o temor, nada de obediência, zero competência
e nenhum desenvolvimento da qualidade de vida pessoal, coletiva e ambiental.
Por isso o país está tão desqualificado mundialmente em Educação, Saúde,
Habitação, Segurança (e eu acrescento Fé), abaixo inclusive de pequenos países
africanos. E até mesmo os propagados avanços tecnológicos, desprovidos de temor
e competência, se tornam perda de tempo e perigoso instrumento nas mãos do
crime organizado.
Creio que ainda há tempo de ir
até a prateleira empoeirada da mente, ou à lixeira das prioridades pessoais, e
resgatar o respeito a si mesmo, a Deus, ao próximo e ao meio ambiente. Antes
que o tempo escorregue pelas mãos e,
depois, alguém perceba que a vida foi inútil por causa da infelicidade do lar,
do caos social, da morte dos princípios éticos, da total desestruturação
causada pela incompetência multiplicada no país – que atinge a minha e a sua
vida, a felicidades de novas gerações.
Fonte: Autor do Texto – Moisés
Selva Santiago / Jornalista – Jornal Alto Madeira
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