quarta-feira, 30 de março de 2016

Nostalgia com três rodas: você ainda pode ter seu sidecar

Popular no começo do século passado, o sidecar mantém entusiastas e pode ser encomendado no Brasil



A origem do sidecar, aquela carreta ou carrinho lateral para se levar passageiro, surgiu junto com a própria motocicleta. A criação é do fim do século 19, quando foi inventado para acoplamento à bicicleta como uma forma de levar passageiro (geralmente criança) com mais conforto e segurança. A motorização das primeiras bicicletas e sua evolução como motocicletas na virada do século popularizou o sidecar, que já não dependia mais da tração pelas pernas do condutor e continuava oferecendo uma alternativa de transporte confortável em veículos equipados com apenas um selim ou condições ainda precárias na garupa.
Sidecars quase sempre foram fabricados por empresas independentes das fabricantes de motos, mas houve exceções como a da Harley-Davidson, que os produziu para o exército na época da 1ª Guerra Mundial mesclando a agilidade da moto à possibilidade de carregar arma e atirador ao lado. A popularidade nos Estados Unidos diminuiu nas décadas seguintes acompanhando o barateamento do automóvel, mas seguiu firme na Europa e teve papel importante nas tropas alemãs, russas e inglesas durante a 2º Guerra Mundial.
A produção de carros mais acessíveis no pós-guerra e o conforto melhorado na garupa das motos acabou restringindo o uso do sidecar a aficionados que curtem um passeio nostálgico com o filho ou neto pequeno, ou mesmo com a esposa que quer ainda mais conforto (há espaço para esticar as pernas e hoje existem modelos totalmente fechados). É o caso do cliente de Helcio Zambotto, da oficina de customização paulistana AZ Motorcycles, que encomendou a personalização de uma Harley-Davidson incluindo a construção de um sidecar (foto principal). “Já construímos dois, sempre em metal. Nosso trabalho começa com uma entrevista para saber do que o cliente precisa, o gosto pessoal e tiramos até as medidas dele para que o resultado seja realmente personalizado”, conta.
A construção parte de tubos de aço para a estrutura e chapas que serão moldadas para dar a forma escolhida pelo cliente, num processo que leva seis meses e custa a partir de R$ 40 mil até que esteja pronto com sistema de suspensão, roda e pneu combinando com a moto, acabamento interno, pintura personalizada etc. O resultado é uma experiência confortável para o passageiro, que dispõe de um assento completo com encosto e amplo espaço para as pernas, enquanto o piloto precisa se adaptar a um novo estilo de pilotagem: sem contar com a inclinação da moto é preciso comandar tudo pelo guidão, se acostumar a curvas mais lentas e à largura que equivale a ocupar uma pista inteira, como se estivesse de carro.    
Se você não pode (ou quer) gastar o valor de uma moto de alta cilindrada para realizar o sonho de ter um sidecar, nem está disposto a importar modelos de produção em série da indiana Royal Enfield ou da russa Ural, há opções mais acessíveis no país. A partir de R$ 3.600 é possível encomendar um sidecar produzido em série com carroceria de fibra de vidro que fica pronto em cerca de um mês, com um nível de personalização menor, mas que ainda inclui a escolha da cor, do revestimento do banco, roda e pneu. Fabricantes como Motocarga, Saidecar e Saidbrasil cresceram desenvolvendo variações da carreta lateral para transporte de carga e hoje mantém em linha ao menos um modelo para passageiro. O processo para quem encomendou um sidecar termina com a legalização para rodar dentro da Lei, o que significa incluí-lo na documentação da moto solicitando ao Detran uma Inspeção de Segurança Veicular a ser realizada pelo Inmetro – a aprovação gera a emissão de um novo Certificado de Segurança Veicular incluindo a modificação na carroceria para transporte de três passageiros como “sidecar intercambiável”, ou seja, que pode ou não estar na moto.    
Acelerados
Como já aconteceu com praticamente todos os veículos motorizados, mesmo quando parecem pouco afeitos à velocidade, a moto com sidecar também chegou às pistas de corrida. E da maneira mais insana possível, com o passageiro fazendo pêndulos fora do sidecar, quase deitado do lado interno da curva, para que o conjunto não capote. Existem categorias para motos de diferentes cilindradas e níveis de preparação, incluindo protótipos com estrutura tubular única, três largos pneus slick de carro (afinal, se não pode inclinar, que tenha a maior aderência possível) e motor 4 cilindros de esportiva. E se você pensa que já viu de tudo, procure vídeos das modalidades speedway e cross, com saltos e tudo mais...       
Fonte: Revista Duas Rodas.

Um comentário:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

O side-car começou a cair em desuso na Europa durante o pós-guerra com a chegada do Citroën 2CV e do Fusca, que por terem o motor refrigerado a ar como na maioria das motos da época (diz a lenda que o engenheiro Pierre-Jules Boulanger desmontou uma moto BMW de propriedade do desenhista Flaminio Bertone antes de projetar o motor do Citroën 2CV) não corriam o risco de congelamento da água do sistema de refrigeração ao serem estacionados ao relento ou numa garagem sem calefação durante o inverno europeu numa época que nem se falava em aditivo para radiador. De vez em quando eu vejo alguma moto com side-car aqui em Porto Alegre, a maioria CG e sendo usada para transporte de cargas leves mesmo, mas também já vi uma Harley-Davidson Sportster e duas CGs com side-car para passageiro. Quanto às Ural russas, eu acho interessante por alguns modelos terem o side-car tracionado.

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