terça-feira, 22 de março de 2016

Coluna do Heródoto - NÃO É BEM ASSIM

Os livros didáticos ensinavam nas escolas que a república brasileira se espelhou na república americana. Não é bem assim. A república americana foi fruto de uma guerra da independência que se iniciou quando os colonos ingleses na América tomaram consciência que não tinham vez no parlamento britânico. Este impunha normas e impostos e os ingleses da América queriam ser ouvidos, ter deputados, afinal se consideravam cidadãos ingleses. Ao saber que o único direito que tinham era pagar impostos, rebelaram-se para uma guerra da independência. Os comandantes eram civis, na maioria proprietários de terras e escravos. Influenciados pelos ideais do liberalismo do final do Século 18 fundaram os Estados Unidos da América. Puseram em prática a teoria de uma república presidencialista, com os poderes divididos em executivo, legislativo e judiciário. O poder preponderante era e é o Congresso. O presidente tem pouco poder e ele é mais fraco se o seu partido tem minoria no Congresso, como o Obama. Por isso ele cuida mais de assuntos internacionais do que questões internas. Enfim, tinha e tem pouca influência porque seu poder está limitado pela constituição..

A república brasileira nasceu de um golpe de estado militar contra o império. Os líderes, Deodoro, Floriano, Rui Barbosa eram monarquistas. A constituição de 1891 tentou se inspirar na americana com divisão de poderes, supremo tribunal federal, etc . Contudo os constituintes foram  fortemente influenciados pelo pensamento  do filósofo Augusto Comte. Este recomendava que o poder preponderante deveria ser do presidente, com forças de um verdadeiro ditador. Deodoro e Floriano foram ditadores. A história da República dos Estados Unidos do Brasil era ensinada nas escolas através da sucessão dos presidentes. Isto era coerente com o pressuposto que ele era o mais importante agente político. E era . A constituição punha na mão dele poderes que jamais um presidente americano teve.  E assim foi . Por isso não teve grande resistência quando Vargas implantou uma ditadura de fato em 1930, deu o golpe que criou o Estado Novo em 1937. Ficou no poder 15 anos. Impensável nos Estados Unidos onde Roosevelt foi eleito por três vezes em plena segunda guerra mundial.

Vargas e seus sucessores recorreram ao populismo para se manter no poder. O populista é o político que promove uma aliança entre classes sociais diferentes e se apresenta como o pai dos pobres, mãe dos necessitados. É o salvador da pátria. É o homem ungido capaz de salvar  o pais. Isto foi repetido pelo  menos por sete décadas nas escolas e na mídia. O líder populista tem como principal característica falar o que o povo quer ouvir. Incentiva o assistencialismo estatal e finge estar ao lado dos pobres, mas convive com os ricos. Vende a imagem de um descamisado, mas tem acesso ás  mais caras grifes. Fala do  transporte precário dos trabalhadores, mas viaja  em jatinhos. Enfim é um fenômeno latino americano. Não se confunde com os ditadores europeus do entre guerras que cavalgavam em ideologias estruturadas. O populismo se esparramou por toda a estrutura política brasileira e deu conteúdo para os discursos de vereadores, prefeitos, deputados, governadores e senadores. E presidentes, é claro.

Fonte: Coluna do Heródoto - Record News / São Paulo-SP.




Um comentário:

Unknown disse...

Amém. E assim será, sem investimento real em educação social e formação profissional.

Postar um comentário