Umas das experiências mais tristes do ser humano é quando ele se sente só, porque foi julgado e difamado. Quantas vezes cada um de nós passa por essa experiência terrível de ter sido atacado e consequentemente isolado? Chega ao ponto de não encontrar uma alma viva que te possa socorrer e ajudar. Ao máximo, constatar os balanços de cabeças para confirmar: ‘pobre coitado!’. Uma pessoa denegrida, julgada e abandonada é a destruição da sua humanidade. Mas o que resta a uma pessoa que passa por esses momentos tão cruéis? Onde buscar abrigo, compreensão? Nem os familiares ou colegas de profissão estão próximos. Um deserto tomou conta da pessoa. O que fazer em circunstâncias como essas? Será que há saída? É verdade que tem gente que não consegue enxergar mais nada e se entrega ao ‘vazio’. Porém, eu acredito firmemente que também nesses momentos tão cruciais é possível encontrar uma saída relevante que ajuda a superar tudo. Qual é? Quem nos orienta mais uma vez é a Sagrada Escritura, através do salmo 34. Leia atentamente:
“Lutai, Senhor, contra os que me atacam; combatei meus adversários. Empunhai o broquel e o escudo, e erguei-vos em meu socorro. Brandi a lança e sustai meus perseguidores. Dizei à minha alma: ‘Eu sou a tua salvação’. Sejam confundidos e envergonhados os que odeiam a minha vida, recuem humilhados os que tramam minha desgraça. Sejam como a palha levada pelo vento, quando o anjo do Senhor vier acossá-los. Torne-se tenebroso e escorregadio o seu caminho, quando o anjo do Senhor vier persegui-los, porquanto sem razão, me armaram laços; para me perder, cavaram um fosso sem motivo. Venha sobre eles de improviso a ruína; apanhe-os a rede por eles mesmos preparada, caiam eles próprios na cova que abriram. Então, a minha alma exultará no Senhor, e se alegrará pelo seu auxílio. Todas as minhas potências dirão: ‘Senhor, quem é semelhante a vós? Vós que livrais o desvalido do opressor, o mísero e o pobre de quem os despoja’. Surgiram apaixonadas testemunhas, interrogaram-me sobre faltas que ignoro, pagaram-me o bem com o mal. Oh, desolação para a minha alma! Contudo, quando eles adoeciam, eu me revestia de saco, extenuava-me em jejuns e rezava. Andava triste, como se tivesse perdido um amigo, um irmão; abatido, me vergava como quem chora por sua mãe. Quando tropecei, eles se reuniram para se alegrar; eles me dilaceraram sem parar. Puseram-me à prova, escarneceram de mim, rangeram os dentes contra mim. Senhor, até quando assistireis impassível a este espetáculo? Arrancai desses leões a minha vida, livrai-me a alma de seus rugidos. Vou render-vos graças publicamente, eu vos louvarei na presença da multidão. Não se regozijem de mim meus pérfidos inimigos, nem tramem com os olhos os que me odeiam sem motivo, pois nunca têm palavras de paz: e armam ciladas contra a gente tranquila da terra, escancaram para mim a boca, dizendo: ‘Ah! Ah!’ Com os nossos olhos, nós o vimos! Vós também, Senhor, vistes! Não guardeis silêncio. Senhor, não vos aparteis de mim. Acordai e levantai-vos para me defender, ó meu Deus e Senhor meu, em prol de minha causa! Julgai-me, Senhor, segundo vossa justiça. Ó meu Deus, que não se regozijem à minha custa! Não pensem em seus corações: ‘Ah, tivemos sorte!’ Não digam: ‘Nós o devoramos!’ Sejam confundidos todos juntos e se envergonhem os que se alegram com meus males, cubram-se de pejo e ignomínia os que se levantam orgulhosamente contra mim. Mas exultem e se alegrem os favoráveis à minha causa e digam sem cessar: ‘Glorificado seja o Senhor, que quis a salvação de seu servo!’ E a minha língua proclamará vossa justiça, dando-vos perpétuos louvores.”
O autor desse salmo desabafa, na prática, a traição que recebeu. Foi um complô bem armado para condená-lo. Ele foi conduzido perante à magistratura corrupta baseado sobre falsas acusações: “os que tramam minha desgraça... interrogaram-me sobre faltas que ignoro”. Perante essa triste farsa processual, sobretudo porque os que o acusam são ex-amigos, não lhe resta que buscar o verdadeiro juiz, Deus, para que possa desvendar a injustiça que foi submetido: “Senhor, vistes!... levantai-vos para me defender”. Para isso, o autor proclama palavras de fogo, de total desabafo, pedindo a Deus: “Empunhai o broquel e o escudo” para socorrê-lo e define os inimigos como fossem animais que devoram as suas vítimas quando acusam os inocentes de crimes nunca cometidos.
É uma situação trágica, de grande tensão que somente Deus pode resolver tomando a sua defesa. Assim sendo, Deus não fica indiferente perante a corrupção, a injustiça da humanidade. Recorrer a Deus que é um juiz justo e imparcial. É Ele o supremo juiz. Então, o justo poderá sofrer injustiças entre os homens, mas tem a quem ele apelar para revelar a verdade. Consequência de tudo isso, o justo eleva um hino de alegria pela felicidade de ter encontrado de ser absolvido pela justiça de Deus. Isto é, a humanidade pode confiar em uma justiça transparente, justa que é de Deus. E o papa Francisco acrescenta: “Nós nos colocamos no lugar de Deus”, mas “o nosso julgamento é um julgamento pobre”, nunca “pode ser um verdadeiro julgamento porque em nosso julgamento falta a misericórdia. E quando Deus julga, julga com misericórdia”.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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