Mulheres, seja no fora de estrada ou na pista, se destacam cada vez mais e confirmam que o preconceito é coisa do passado.
Hoje em dia já é comum assistir a uma prova de motocross, de enduro ou de motovelocidade e torcer pra uma mulher vencer. Ou mesmo ver ao seu lado no farol uma moça charmosa, de salto alto, indo para o trabalho. Isso acontece, pois a participação média delas no mundo das motos já representa 25% de todo o mercado desde 2009. O preconceito vai ficando cada vez mais no passado, quando as moças não eram bem vindas nos “esportes masculinos”. O momento agora é de crescimento, de novos patrocinadores e de fascínio, já que o amor delas às duas rodas parece ultrapassar muitas barreiras — e a de muitos barbudos por aí.
“Saí da Bahia e fui até o Rio de Janeiro só para treinar em Jacarepaguá. São três dias de viagem. Um para ir, um de treino e um para voltar. Tudo bem corrido para conseguir trabalhar no sábado”, revela a advogada Erika Cunha, piloto de motovelocidade. Como mora em Teixeira de Freitas, no interior baiano e longe de qualquer aeroporto, Erika precisa ir de ônibus até a Cidade Maravilhosa — ou pra São Paulo — sempre que deseja treinar com sua Yamaha YZF R6. Não há circuitos ou autódromos próximos a sua cidade, uma realidade que se vê por todo o Brasil.
E as dificuldades não param por aí. É necessário ter força física (massa muscular) para competir sobre uma moto, principalmente nas provas de enduro, e, se os homens franzinos sofrem com o peso das motos, imaginem uma garota com menos de cinquenta quilos. “No motocross eu usava motos compatíveis com minha idade (50cc, 60cc, 80cc). Mas quando comecei no rally em 1998 minha moto tinha mais de três vezes o meu peso”, conta a experiente Moara Sacilotti, que hoje aos 32 anos é piloto de fábrica da equipe Kawasaki e velha conhecida nas provas de rally.
Mais dificuldades
Precisando superar os problemas físicos e sociais, as mulheres que desejam competir profissionalmente sobre uma motocicleta ainda enfrentam as questões econômicas. Não é possível viver somente dos prêmios pagos pelas organizações dos campeonatos. “Sou formada em Relações Públicas, mas não trabalho na área. Fiquei muito tempo trabalhando com meu pai, mas agora vou abrir minha loja”, diz a mineira Sabrina Katana, pilota de motocross e que carrega esse sobrenome em homenagem à antiga Suzuki Katana 750, uma das motos preferidas de seu pai.
Fatos curiosos como esse apontam uma regra: quase todas as mulheres que competem de moto têm na família seu grande incentivo. Foi assim com a Erika Cunha, que há dez anos cuida de uma revenda Yamaha com os familiares e contou que sua sobrinha aos três anos já diz querer uma R1 quando crescer. O mesmo ocorreu com Moara Sacilotti, já que seu pai competia de enduro e a mãe adora o esporte. Aconteceu também na casa da Sabrina Katana com o fascínio do pai pelos enduros e as motos brasileiras. E é rotina com a mais nova promessa feminina da motovelocidade, a piloto Sabrina Paiuta, que vê no pai o maior incentivador.
“As dificuldades são grandes, principalmente quando duvidam da nossa capacidade. Mas aprendi com meu pai a entender isso, pois aprendo com os obstáculos”, desabafa Paiuta, revelando que ainda sente certo preconceito nas pistas de Supermoto. Ainda com 17 anos e cursando o 3º ano do ensino médio, Paiuta terá que enfrentar outro desafio na carreira. Este ano ela competirá pela primeira vez na Copa Ninja, com a Kawasaki Ninja 250R. “As pessoas estão achando que vou migrar para a motovelocidade, mas na verdade estou apenas acrescentando uma nova modalidade à minha carreira”, confidencia a paulista, explicando que a oportunidade apareceu e ela abraçou.
Motocicleta no trânsito
A paixão que estas meninas têm pelo mundo das motos fica nítida a cada conversa. Mas como será a relação delas com as motos fora das competições. “Não tenho moto de rua, mas gostaria sim”, revela Sabrina Katana, explicando que acredita ser importante haver um respeito maior entre o motorista e o motociclista para que o veículo de duas rodas consiga seu espaço nas ruas.
E a moto como solução para o trânsito? Mesmo sem idade para tirar a carteira de habilitação, Sabrina Paiuta acredita que “a moto é uma ótima opção para a população, principalmente para os paulistanos”. Moara Sacilotti também acredita na moto como solução, entretanto faz uma ressalva. “Eu mesmo não ando de moto na rua. Acredito que (a moto) seja o futuro, mas nosso País ainda não está preparado pra isso”, diz. Já Erika Cunha costuma acelerar sua Yamaha YZF R1 nas ruas de Teixeira de Freitas e nas estradas baianas.
Papo de moto
“Tem um bairro aqui em Belo Horizonte (MG) onde ficam concentradas as lojas de moto. Toda sexta-feira tem churrasco em frente a uma das lojas e eu vou só para falar de moto”, relata Sabrina Katana, contando que já foi até “adotada” por um homem que dizia ser tio dela nas conversas só pelo orgulho que a moça proporcionava nas competições do fora de estrada.
Alguém se perguntou por que ir até um churrasco com predominância masculina só para falar de motos? A resposta é simples. “As amigas não gostam de falar de moto, ficam entediadas. Já os homens prosseguem no assunto”, conta Erika Cunha. Essas confidências mostram que o motociclismo ainda é sim dominado pela classe masculina.
Para a jovem Sabrina Paiuta, os amigos não entendem sua ausência das baladas e dos barzinhos e a cobram por isso. “É uma vida disciplinada, de muita dedicação. É complicado para meus amigos entenderem isso. Quando estou com eles procuro não falar de motos, pois ficam perdidos no assunto”, esclarece a jovem.
Patrocínios
Quem conhece e acompanha o motociclismo de competição sabe a dificuldade que é para se manter do esporte. Poucos conseguem. Nossas quatro personagens não são exceções a regra. Estudam e trabalham para conseguir se financiar e continuar competindo. É hobby ou profissão?
Deveria ser através das competições que viria o sustento, mas na verdade é do trabalho comum, ou do famoso “paitrocínio” que vêm o combustível para seguir em frente. “Mesmo com a Kawasaki, a Rinaldi e outros patrocinadores do meu lado, ainda pago a maioria das corridas com dinheiro do meu trabalho e apoio da família”, afirma Moara Sacilotti, confirmando as dificuldades que enfrentam as mulheres no motociclismo brasileiro.
Outro fato que fica evidenciado após conversar com essas guerreiras é a dimensão dos patrocinadores. Eles ajudam com produtos, mas poucos entram com dinheiro. “Mesmo depois de conseguir o título do Campeonato Paulista de Supermoto (SM3 A) e conseguir virar uma piloto oficial da Kawasaki, ainda sofro com os patrocínios. Isso me deixa abalada”, confirma Sabrina Paiuta que, mesmo jovem, diz perceber que essa situação está melhorando.
Mas para não desanimar as mulheres do Brasil a seguirem com seus sonhos, sejam eles quais forem, pedimos que nossas quatro entrevistadas dessem uma declaração de incentivo, de apoio, ou um simples afago para quem está começando e sentindo na pele toda a dificuldade de ingressar e se manter no motociclismo brasileiro de competição.
Resultado? Todas citaram a paixão como a maior fonte de perseverança e a Moara Sacilotti definiu bem o espírito dessas mulheres. “Correr de moto não é fácil e é isso que torna o esporte tão fascinante. Muitas vezes vocês vão cair, mas é só levantar e continuar acelerando. Afinal, os obstáculos ficam menores se vocês passarem rápido por eles!”
Fonte: Yahoo/Motos
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