É só na liberdade que o homem e mulher se podem converter ao bem e reconhecer as maravilhas do Senhor na vida deles. Os homens e as mulheres de hoje apreciam grandemente e procuram com ardor esta liberdade; e com toda a razão. Muitas vezes, porém, fomentam-na em um modo condenável, como se ela consistisse na licença para fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto que agrade. A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no ser humano. Pois Deus quis «deixar o ser humano entregue à sua própria decisão» para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a Ele. Exige, portanto, a dignidade do ser humano que ele proceda segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por mera coação externa.
Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o ser humano, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a ansiedade do ser humano: o prolongamento da longevidade biológica não pode satisfazer aquele desejo de uma vida ulterior, invencivelmente radicado no seu coração. Assim sendo, o salmo 97, das Sagradas Escrituras, nos convida a reconhecer e cantar a presença prodigiosa de Deus na vida das pessoas como glorificação também do próprio ser humano.
"Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele operou maravilhas. Sua mão e seu santo braço lhe deram a vitória. 2.O Senhor fez conhecer a sua salvação. Manifestou sua justiça à face dos povos. 3.Lembrou-se de sua bondade e de sua fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a salvação de nosso Deus. 4.Aclamai o Senhor, povos todos da terra; regozijai-vos, alegrai-vos e cantai. 5.Salmodiai ao Senhor com a cítara, ao som do saltério e com a lira. 6.Com a tuba e a trombeta elevai aclamações na presença do Senhor rei. 7.Estruja o mar e tudo o que contém, o globo inteiro e os que nele habitam. 8.Que os rios aplaudam, que as montanhas exultem em brados de alegria 9.diante do Senhor que chega, porque ele vem para governar a terra. Ele governará a terra com justiça, e os povos com equidade."
Este hino, cheio de alegria, de entusiasmo e confiança, é dedicado à realeza de Deus. O autor desse salmo nos convida a reconhecer as maravilhas que o Senhor opera entre nós. É um canto que permite ter uma ligação da ação presente de Deus na história da humanidade e a ação perfeita dos chamados ‘últimos tempos’. Justamente, esse salmo faz uma ligação do presente com o futuro em que o Senhor governará o mundo com justiça. É essa certeza de Deus, Senhor de todo o tempo, que sustenta e anima a comunidade. Uma comunidade que louva e se une à própria natureza em que o mar com o seu fragor faz ouvir o seu som ameaçador, e, ao mesmo tempo, eleva hinos ao Deus Senhor de toda a criação.
Além do mar, juntam-se os rios que com os seus percursos sinuosos parecem que elevam ao Senhor todo poderoso palmas, aplaudindo dando formas de dança jubilosa. E, enfim, as montanhas que se erguem para o céu parecem dançar perante o Senhor, dando força e vigor a toda a criação. Tudo isso revela que nem fosse como um imenso coro que exalta Deus o grande juiz. E o santo padre, papa Francisco, no dia 03 de fevereiro se 2016 falou a respeito: “A Sagrada Escritura nos apresenta Deus como misericórdia infinita, mas também como justiça perfeita. Como conciliar as duas coisas? Como se articula a realidade da misericórdia com as exigências da justiça? Poderia parecer que são duas realidades que se contradizem; na realidade não é assim, porque é justamente a misericórdia de Deus que leva a cumprimento a verdadeira justiça. Mas de qual justiça se trata? Se pensamos na administração legal da justiça, vemos que quem se considera vítima de uma injustiça se dirige ao juiz no tribunal e pede que seja feita justiça. Trata-se de uma justiça retributiva, que inflige uma pena ao culpado, segundo o princípio de que a cada um deve ser dado aquilo que lhe é devido. Como diz o livro dos Provérbios: “Quem pratica a justiça é destinado à vida, mas quem persegue o mal é destinado à morte” (11, 19).” Seguindo o nosso Deus podemos viver a verdadeira justiça.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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