Por que investidores vendem suas ações mais valiosas e mantêm as de valor decadente? Como é que um piloto decide o que fazer quando precisa aterrissar um avião com problemas?
O neurocientista Jonah Lehrer tenta responder essas perguntas – e outras perguntas semelhantes – em seu livro recém-lançado How We Decide (Como Decidimos). Baseando-se em descobertas antigas e também recentes da neurociência, Lehrer pinta o cérebro como uma máquina altamente complicada que trabalha constantemente para resolver problemas e desafios diários, frequentemente sem o consentimento consciente de seu dono.
Lehrer argumenta que quanto mais compreendermos as prerrogativas biológicas do cérebro, mais capazes de tomar as decisões certas seremos. Isso inclui tudo desde que cereal matinal ou carro comprar até saber quando cortar nossas perdas na bolsa de valores. No fim, ele diz, os humanos têm o poder de bloquear impulsos que possam causar problemas e ficar livres de cometer erros.
O mandato biológico do cérebro
Cientistas modernos vêm estudando o cérebro a sério por décadas, mas foi apenas o surgimento das tecnologias de imagem e digitalização que os permitiu analisar as funções cerebrais quando as informações são processadas. Essa melhoria confirmou o que os cientistas desconfiavam: o cérebro adora premeditar resultados e é dotado de um neurotransmissor conhecido como dopamina, que possibilita esse processo. “Em um nível profundamente existencial, nós adoramos saber o que vai acontecer daqui pra frente”.
Os neurônios da dopamina são instrumentais, visto que acompanham expectativas e resultados, aumentando quando vivenciamos uma experiência alegre e diminuindo quando ficamos decepcionados. Contudo, isso é tanto uma bênção quanto uma maldição. A dopamina ensina o cérebro a tomar decisões baseado em experiências passadas, mas a busca por essa satisfação pode fugir do controle e se transformar em um vício ou em um comportamento prejudicial.
Jogar em máquinas caça-níqueis, por exemplo, pode dar a você uma sensação de grande recompensa e engajar o cérebro em uma tentativa de resolver a lógica da combinação vencedora. Mas máquinas caça-níqueis também são fundamentalmente imprevisíveis. Criar uma obsessão por elas pode fazê-lo perder tempo e dinheiro.
A boa notícia é que os neurônios da dopamina também estão programados para aprender com suas previsões erradas. “As lições são ainda mais poderosas”, diz Lehrer, “quando os erros não são apenas percebidos, mas rigorosamente analisados de tempos em tempos”. Sem esse monitoramento constante, o cérebro tende a repetir suas escolhas ruins.
Quando o cérebro se depara com um desafio ou problema, ele faz com que diferentes partes suas analisem a informação recebida. Há respostas emocionais e racionais, e até mesmo contraditórias, e é por isso que o ser humano preza a certeza. O cérebro humano é feito para criar reações diferentes ao mesmo tempo.
Há muitas condições que influenciem o processo de tomada de decisão, mas uma das mais importantes é o humor. Em um estudo realizado em 2006, o neurocientista Mark Jung-Beeman avaliou como 79 pessoas felizes e infelizes resolviam palavras cruzadas. Aqueles com uma atitude positiva resolveram 20% mais palavras cruzadas do que os outros participantes menos contentes.
“Apesar de aqueles com estados de humor ruins também conseguirem resolver problemas”, diz Jung-Beeman, “a ansiedade pode estreitar sua percepção de potenciais soluções”. Um pensamento positivo, contudo, tende a expandi-la.
O equilíbrio emocional-racional
Jung-Beeman, que é professor da Universidade Northwestern, também estudou o processo de tomada de decisão criativa e descobriu que os bons resultados geralmente são fruto do uso tanto da inspiração quanto da análise. A inspiração e o pensamento intuitivo parecem se desenvolver repentinamente, enquanto nossos pensamentos racionais tendem a pensar mais como uma calculadora, fazendo avaliações comparativas de dados. Ambos acionam partes diferentes do cérebro e saber quando alternar entre os dois é um talento adquirido.
No caso do piloto de avião que tenta aterrissar uma aeronave com problemas – um exemplo recorrente no livro de Lehrer –, tomar decisões sob pressão requer ouvir a intuição que alerta o cérebro sobre um potencial problema. Mas também é necessário livrar a mente de pensamentos de pânico, de modo que ele possa se lembrar de problemas passados e pensar em uma lista curta de boas soluções.
A maioria de nós raramente precisa tomar decisões tão difíceis, mas nos batemos, sim, pra tomar decisões básicas e diárias. Isso pode estar acontecendo porque o “cérebro racional”, conhecido como córtex pré-frontal, consegue lidar apenas com de quatro a nove tipos de dados diferentes ao mesmo tempo antes de começar a simplificar os problemas e se focar em detalhes irrelevantes como uma maneira de diminuir o número de escolhas. Por outro lado, o cérebro inconsciente processa muito mais informação que isso e frequentemente é a fonte de instintos e emoções que influenciam nossa tomada de decisão.
É um conselho simples, mas as decisões frequentemente se tornam difíceis quando o cérebro distorce nossa percepção dos riscos potenciais. A perda da aversão ou a tendência à perda irracional do medo já levou pessoas a muitas decisões ruins, segundo Lehrer. Exemplos incluem decisões ruins de investidores que frequentemente vendem suas ações de alto valor e mantêm as de valor decadente por temerem absorver a perda das piores ações.
Antonio Damasio, diretor do Instituto do Cérebro e da Criatividade da Universidade do Sul da Califórnia, descobriu que esse fenômeno pode ser revertido com reflexão e prática. Quando se trata de perdas financeiras, fazer um simples cálculo que demonstre um ganho relativo geralmente é suficiente para convencer a mente de que o risco vale a pena.
Mas, como tudo na neurociência, aplicar isso à vida cotidiana requer tempo e contexto.
“Tendo em vista nosso colapso financeiro”, diz Lehrer, “ter aversão à perda me parece ótimo”.
Fonte: Excellence Studio
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