Assim, no meu diário dessa viagem, quero impregnar na retina as imagens de tirar o fôlego mas, principalmente, na memória do coração, que o melhor de cada passeio está no grande amor de Deus
Ganhei dos filhos uma viagem e escrevo essa crônica em meio ao roteiro de vinte dias. Há um tempo certo para todas as coisas.
Tempo para receber com ainda mais gratidão e plenitude e beleza dos cenários que hoje pousam em meu olhar. E são muitos, intensos, magníficos. Alguns, impressão minha. Deus gastou um tempinho extra e brincou, se divertiu mais do que em outros. Porque pintou montanhas imensas, picos gelados de neve, lagos fantásticos, cristalinos, vaquinhas que precisam de sinos no pescoço, os lindos Alpes. Outros, Deus fez ilhas rochosas gigantescas que habitam mares verdes fascantes, bravios.
Na Europa, onde estou, além dos lugares de beleza natural, meus olhos miram a beleza que as civilizações edificaram, e que as ações da história tentaram destruir. Beleza que os grandes artistas produziram de forma até sobrenatural e que resiste aos séculos. Beleza em estado de arte - pura do Criador e do Criador pela inteligência e talento das mãois dos homens. Enfim, quando se está revestido de gratidão para visitar a beleza, o êxtase acontece.
Mas, para além dos lugares espetaculares, e que estão acrescentando muita alegria aos meus dias, o gostoso de viajar é observar, conhecer pessoas. Como são interessantes, com suas marcas culturais e físicas que as fazem distintas. O mar de gente passando nas galerias do Museu do Vaticano e indo desembocar dentro da Capela Sistina me fez surfar em praticamente quase todas as raças. Incrível aquilo dar certo, tão organizado, silenciosso com milhares de pessoas. Eu, na minha ignorância, imnpressionei. Sei lá, tinha tudo para dar errado, mas havia reverência e êxtase. Uma imensa mistura de povos regida, conduzida pela beleza da arte, do sagrado. Sai dali melhor, mais feliz.
Navegar suavemente numa linda embarcação a vapor, daquelas com lustres de cristais, que parece saída de filme antigo, pelas águas do rio Lucerna, na Suíça, foi outra experiência que me fez ser mais feliz. Me sentei ao lado de uma linda senhora de profundos olhos azuis. Estava só, como eu. Conversamos um pouco no trajeto, eu sapecando meu inglês sofrido e ela, muito educada, como não querendo me perder, me entendendo gentilmente. Indicava-me os pontos mais bonitos para fotos. Percebi que ficou feliz com minha breve companhia. Meu ponto de desembarque chegou, agradeci e disse a ela, de todo meu coração, que ela era lindíssima. Ela respondeu em lamento: - "sou apenas uma velha." Nunca mais vou esquecer daquela mulher querida, olhar triste. Entendi que a solidão é como a comunicação com gstos: universal. É como Mário Quintana escreveu: viajar é mudar o cenário da solidão.
Algumas outras situações nesses dias fora do meu cotidiano me lembram Miguel Cervantes: "andar por terras distantes e conversar com pessoas torna os homens ponderados". E acrescento, mais serenos, completos. Mais cientes de que vale a pena sermos aprazíveis e bons em nossas aldeias, que é onde vivemos quase toda nossa vida.
Assim, no meu diário dessa viagem, quero impregnar na retina as imagens de tirar o fôlego mas, principalmentye, na memória do coração, que o melhor da cada passeio está no grande amor de Deus. Que é tremendo em sua criação e criaturas. E que a palavra precisa, sempre, ser gratidão.
Fonte: Elma Emeida Bassan Mendes / Jornalista, escritora e membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec). Jornal Diário da Região.
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