quarta-feira, 10 de maio de 2023

Parte e todo

 O Brasil, pátria de chuteiras, é abusivo contra mulheres, crime arraigado desde a colonização

Em "Memória Póstumas", Machado de Assis explica como o menino é pai do homem. Se o escritor realista continua correto, temos um panorama desolador à frente quanto aos valores éticos e morais praticados por jovens e adultos de duas áreas gingantesca influência ao imaginário coletivo nacional: medicina e futebol. A bola, o estetoscópio e perguntas indigestas: até quando vai prevalecer a relativização dos delitos praticados pelos jogadores e pelos cartolas ligados ao futebol? Até quando a sociedade vai tolerar a violência praticada por médicos contra mulheres?

O Brasil, pátria de chuteiras, também é abusivo contra mulheres, crime arraigado desde a colonização e o horror praticado contra corpos indígenas e negros. Melhor seria se foesse a pátria da isonomia, dos elevados índices de desenvolvimento humano e de chuteiras também, pois o esporte é imporante fator de coesão social. Dizem os apressados que o comportamento criminoso do esportista está na sua origem social vulnerável. Tal análise é determinista e preconceituosa, pois caráter não tem bolso. Infelizmente, exemplos são incontestáveis: do técnico Cuca a Daniel Alves, passando por Robinho, "ídolos" pertpetuam a objetificação do corpo feminimo, sempre com a defesa infame dos fãs que cultuam políticos, artistas e atletas de estimação, passando pano em suas ações vis.

Mudando do campo para a sala de cirurgia, parecia haver uma grande mudança de cenário. Ledo engano. De roubos a Cânticos preconceituosos, episídios ligdos à área médica assustam pelo grau de cafajestagem. "Como pode uma aluna aprovada em medicina na USP revelar tais desvios de conduta? - perguntam muitos. Outros se chocam com o grito "Não tenho culpa se seu pai é motoboy", entoado pelos jovens (bem nascidos, ao que tudo indica) futuro médicos de entidade particular faculdade de medicina. Sejam públicas ou privadas, as instituições precisam avaliar além de fórmulas, sob risco de diplomar marginais que nem Louis Stvenson (autor do clásico "O médico e o monstro") conseguiria imaginar.

Formados, poderão ilustrar as páginas policiais tanto quanto já o fizeram Roger Abdelmassih, Eugênio Chipkevitch, Giovani Quintela Bezerra - médicos e monstros estupradores. Como analisar essa dupla natureza das pessoas antes de conferir a elas poder e oportunidade para a prática criminosa?

Diante do exposto, e desconsiderando outros cenários em que o estupro também é recorrente (trabalho, festas, lares, internatos, metrô, taxi...), devemos refletir sobre o modo como o país lida com a formação dos homens, estimulando, ainda, um comportamento sexual invasivo e criminoso. Com o recorte acima proposto, a intenção é descontruir mutos: não é nível social que determnina o estupro, não é o local, muitos menos o traje. Boate, mesa de parto. Até quando o país vai relativizar a exploração do corpo feminino? Não podemos - e não devemos, sobe pena de sermos omissos e complacentes - tolerar a defesa de quem agride outrem sexualmente. Eduquemos nossos meninos para que entendam o limite e a palavra "não". Eduquemos as meninasd para que denunciem, elegendo bancadas legislativas defensoras de sua voz e de seus direitos.

A caminho do trabalho, vi um garoto com uma camisa de futebol com a estampa de um estuprador. Isso é um tapa na cara da ética, da justiça e das vítimas que sofrem linchamento moral após o abuso ("olha a roupa, o batom", "por que foi a boate"? . É a mulher na sala do parto?) O estuprador deveria enfrentar o ostracismo social, e as pessoas - quando éticas e boas - deveriam ter pudor antes de enaltecer o monstro, seja ele exímio atleta, homem de jaleco ou líder provido de capital social, político, religioso. Como é triste ver a defesa de quem não presta, pois bandido alimenta-se disto:  da vítima, do silêncio dos bons, da cumplicidade dos omissos, da idolatria dos indiferentes. Espero que o menino da camiseta desconheça o crime do ídolo - a ignorância é preferível à concordância, pois conhecer e usar a veste infame confirma a tese machadiana: o menino é pai do homem, e isso me entristece e me assusta.


Fonte: Washington Paracatu / Professor do curso de redação Contexto  - (Jornal Diário da Região).







Nenhum comentário:

Postar um comentário