Tentar decifrar a época em que vivemos -- ou de que modo nosso tempo será visto pela posteridade - , eis uma especulação intelectual das mais fecun das na contemporaneidade. Não apenas porque esse tipo de investigação seduz o homem desde que ele teve consciência de sua historicidade, mas também pelo fato de que temos sido testemunhas de acontecimentos que redimensionaram o tempo e a história de uma forma extraordinária nas últimas décadas.
Do conceito de "aldeia global" do teórico da comunicação Marshall MacLuhan ao vaticínio do "fim da história" pelo economista político norte-americano Francis Fukuyama, da conquista da Lua pelo homem à queda do Muro de Berlim, vários fatos podem ser arroladdos como ingredientes do divisor de água do período em que vivemos. A própria virada do século, uma assimetria cronológia que ainda não tragamos direito, costuma ser evocada como baliza de uma nova era, a assimetria, nesse caso, constatada pela forma pouco confortável com nos referimos ao século XX, um século no qual vivamos até outro dia.
Nesse sentido, podemos trazr à pauta as revoluções da engenharia genética, cujo alcance cada vez mais altera a etologia humana, a ascensão ao terrorismo como forma de reivindicação política, ou do narcotráfico e seu poder paralelo, oculto mas sempre onipresente; ou ainda a influência da indústria armamentista e sua capacidade de ser metamorfose - ar para a opinião pública tão-somente em aparato técnico no jogo bélico mundial. E não podemos deixar de fora a escalada fundamentalista no âmbito religioso, consequência desse caldo de cultura e ao mesmo tempo negação dele.
O economista norte-americano John Kenneth Galbraith falava em "era de incertezas". O historiador marxista britânico Eric Hobsbawan há algum tempo fala em "era dos extremos" - a adjetivação que ele usa para classificar o que cham de "o breve século XX" (1914-1991) - as datas falam por si. Há mesmoquem acredite que o século XX ainda não terminou.
Os pós-modernos costumam falar em descontrução, em descontin uidade dos tempo e no fim das metanarrativas (as grandes ideias), aquelas que marcaram a chamada modernidade (trabalho, família, Deus, fé, justiça, Igreja, sindicato, nação, pátira etc.). O pensador francês Jean Baudillard referia-se a simulacros e simulações - o mun do seria aquilo que não se vê, a irrealidade,o não-acontecimento, como no filme Matrix, não por acaso baseado em um de seus livros.
Para falar de nossa época, o sociólogo polonês Zigmun Bauman crioua expressão "modernidade líquida", ao passo que o francês Guy Debord cunhou o termo "sociedade do espetáculo". Gilles Lipovetsky, filósofo francês, recusa o fim da modenidade e o advento de um período posteiror a ela, e prefere fala em hipoermodernidade", uma espécie de rabeira do que foi e ainda seria a modernidade.
Apocalíptico e fatalista, o urbanista e pensador francês Paul Virilo, chamado por seus cr´ticos de "teólogo da Idade de Mídia", criou até uma ciência própria, a dromologia (dromos, em grego, é "corrida"), ciência da velocidade, paera captar a essência da nossa era. Assim como na concepção capitalista tempo é dinheiro, para Virilo, velocidade é poder, e esta seria uma das verdades de nossos dias.
Nesse contxto, com frequência alguns epítetos viram moda. No início dos anos 1990, era comum falar-se de uma "nova ordem mundial", referência ao tabuleiro político posteior à queda da União Soviética. Aqui e ali ouve-se a expressão "terceira revolução indústial", ou "sociedade pós-industrial", dando como líquido e certo que nossa era é marcada não mais pelo uso da máquina, mas por um complexo que envolve o setor terciário, burocracia estatal e a indústria cultural, com a contribuição supostamente deletéria dos meios de comunicação de massa. É dessa perspectiva que se costuma analisar o homem pós-moderno como individualista, hedonista e consumista - ou hiperconsumista, como qujer o ja citado Gilles Lipovetsk.
Teses e teminologias à parte, somos privilegiados por viver em um período tão rico de sobreposições e contradições, cuja complexidade desafia nossa capacidade de entendimento e de codificação. Talves resida aí o seu fascínio.
"Assim como na concepção capitalista tempo é dinheiro, para Paul Virilo, velocidade é poder, e esta seria uma das verdades de nossos dias."
Fonte: Samir Thomaz - é jornalista e escritor e pós-graduado (Globalização e Cultura) na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp). Revista Visão Jurídca.
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