Evangelho de Marcos 10, 46-52
O evangelista narra que Jesus e seus discípulos chegaram a Jericó. Por que fez questão de nomear essa cidade? Se nós lembrarmos quando Josué conquistou a terra prometida, Jericó foi a última cidade antes de chegar a ela. O que quis dizer relembrando isso? Entrando em Jerusalém, Jesus cumpria seu êxodo final, para entrar na nova ‘Jerusalém celeste’. Nessa etapa final, apresentam-lhe ao longo da estrada “o mendigo cego Bartimeu”. Ele não pode se aproximar e, portanto, a única maneira que tinha era gritar, com a esperança de ser ouvido pelo sumo Mestre.
Qual o sentido desse encontro? Esse cego quer representar, simbolicamente, os discípulos Tiago e João, que, não obstante Jesus tivesse falado que ia ser crucificado, persistiam em não compreender por que ‘eles tinham ouvidos, mas não ouviam, tinham olhos, mas não enxergavam’. Isto é, a preocupação de ter os primeiros lugares, serem importantes na vida, os cegou. Isto significa a grande dificuldade em compreender o projeto de Deus, sobretudo se pensarmos com as nossas pretensões, aspirações. No final, existe de verdade também em nós a cegueira em relação à ação de Deus na nossa vida.
Temos dificuldade de discernir a presença de Deus no nosso cotidiano. Eis aqui o exemplo do cego. Ouvindo falar da presença de Jesus, ele começa a gritar, intercedendo ajuda ao divino Mestre. Ele alimentou essa esperança que somente Jesus podia ajudá-lo. É interessante ver Jesus, não obstante fosse cercado de muita gente, consegue ouvir e dar atenção ao pobre cego. Revela-nos, essa Palavra de Deus, como Deus é atento aos pobres que lhe pedem ajuda. Ele manda-o chamar. Deus é que chama para poder encontrá-lo. Não é suficiente a nossa invocação, mas precisa o seu retorno.
O cego, prontamente, jogou fora o manto. Esse manto representa, simbolicamente, a pessoa; e com esse despojamento, quer romper definitivamente com o passado, com a sua própria ideologia para poder seguir Jesus. Também aqui vemos que é o discípulo que deve ir ao encontro de Jesus e não vice-versa. Então, o Mestre Nazareno lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Rabbuní, meu Mestre, que eu veja”. Podem observar que o cego não o chama mais de Filho de Davi, mas ‘meu Mestre’, um termo que era usado para Deus, e, no entanto, os mestres de Israel eram chamados somente “mestre”.
Essa diferença de uso do nome significa que o discípulo começa a entender Deus. Bartimeu demonstra ter muita fé em Jesus, embora não tivesse capacidade de se expressar. E Jesus disse: “Vai, tua fé te salvou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho. Ele foi sarado pela sua fé em Jesus. Consequência disso: deixa tudo e o segue no caminho ao Calvário a Jerusalém. Assim sendo, esse cego Bartimeu se torna o exemplo para todos nós que queremos seguir Jesus no caminho em direção a ‘Jerusalém’. Caminhando com Jesus, achamos a força e a coragem da vitória sobre a cruz, que é uma consequência do compromisso com Deus para servir os outros irmãos, sem ambição nenhuma de poder. Pergunto-te: vives a tua fé em Jesus como o cego Bartimeu?
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação - Belém/PA.
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