Não foi fácil vencer a eleição presidencial. O candidato da oposição tinha o apoio das esquerdas e era considerado um nacionalista. Estava ligado a movimentos políticos que pediam maior participação do Estado na economia. De um lado diziam, era uma forma de aplainar as profundas desigualdades sociais reinantes no Brasil desde os tempos imemoriais. De outro defendia que as multinacionais ficassem sobe rígido controle e fossem impedidas de participar da mineração de produtos considerados estratégicos para o país como o petróleo. Ainda assim ele saiu vitorioso da eleição graças a um discurso moralista, de combate ao que chamava de degradação da família. Os eleitores viram nele um homem capaz de combater uma endemia nacional, a corrupção. Estava disposto, pelo menos nos seus discursos,, que não se dobraria a velha política, não faria o fatídico “é dando que se recebe “ e o destino dos que se aproveitavam dos cofres públicos seria a cadeia. Jogava o estigma da péssima situação econômica do pais aos governos anteriores de inspiração marxista, dizia ele.
A política externa do Brasil ganhou grande destaque nas mídias nacionais. O presidente proclamava que era o momento de mudar os rumos da chancelaria e abandonar os velhos aliados que vinham desde a segunda guerra mundial. O velho barão do Rio Branco iria para o museu. Para isso era necessário se aproximar de alguns outros países que não tinham relações intensas, econômicas e políticas, com o Brasil. A aproximação com Cuba representava um verdadeiro desafio ao poderoso Tio Sam. Mesmo com a vitória dos liderados de Fidel Castro,s os Estados Unidos não se aproximavam do governo cubano e a diplomacia americana pressionava o Brasil para que ficasse longe da intensificação das relações comerciais com o país comunista. Obviamente que a esquerda apoiava essa intensificação política com Cuba e advogava que uma aproximação com outros blocos hostis aos americanos como o mundo árabe e as nações africanas que emanaram do desmantelamento dos antigos impérios coloniais europeus. O presidente tinha pouquíssimo conhecimento de política internacional e mesmo assim a colocava como um pilar mestre do seu governo.
As questões econômicas exigiam medidas urgentes para sanear as contas do governo federal. A gastança do governo anterior deixou uma enorme dívida pública que ameaçava o equilíbrio fiscal do país e os investidores, nacionais e estrangeiros, tiraram o time de campo. Sem reformas profundas o país poderia quebrar e dar um calote em quem detinha títulos de qualquer espécie. Mas ao invés de se atirar com dedicação as mudanças na economia, o presidente se envolvia em querelas paroquiais dignas de alguém que nunca tinha tido o controle de uma nação nas mãos. Ele se fartou de se envolver em questões de ordem moral e comportamental. Comunicava-se por bilhetinhos, os twittes da época. Imiscuiu-se nos anúncios na televisão, acusando-os de afrontar a família, proibiu os desfiles com roupas ousadas, os biquínis e até mesmo as corridas de cavalo e brigas de galo. Jânio Quadros envolveu-se com coisas pequenas, do cotidiano, que talvez ficassem melhor nas mãos de um prefeito. Seu governo não completou oito meses, abandonado pelo Congresso, pelos partidos que o apoiaram e forte oposição na mídia, renunciou à presidência da república. Para uma coleção de historiadores foi uma tentativa de golpe para se instalar no poder como um Nasser ou Nehru da América Latina. Na época Hugo Chaves ainda não existia politicamente.
Fonte: Jornalista Heródoto Barbeiro / Record News-SP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário