Hipertensão, diabetes e cardiopatias são alguns dos males conhecidamente associados à obesidade. Nas últimas décadas, cresceu o corpo de pesquisas sobre a relação entre o peso o câncer
Hipertensão, diabetes e cardiopatias são alguns dos males conhecidamente associados à obesidade. Nas últimas décadas, porém, cresceu o corpo de pesquisas científicas relacionando o excesso de peso também a diversos tipos de câncer. São ao menos 13, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os alertas não param de surgir: na semana passada, um estudo da Associação Norte-Americana de Câncer mostrou que o acúmulo de gordura corporal aumenta mais os riscos de jovens adultos morrerem de tumores de pâncreas do que se imaginava. No mesmo congresso, três pesquisas preliminares demonstraram, do ponto de vista metabólico, como o tecido adiposo pode interferir na divisão descontrolada de células doentes.
Enquanto as engrenagens responsáveis por essa ligação continuam sendo investigadas pela ciência, há pelo menos quatro décadas ela é constatada em estudos observacionais (que não se concentram em causa e efeito), destaca Murilo Buso, oncologista do Centro de Câncer de Brasília (Cettro), que integra a rede Albert Einstein. “Temos de lembrar que o câncer são, na verdade, inúmeras doenças. Para se entender por que algumas pessoas têm e outras não, tentamos nos focar nos fatores de risco. A ciência já entendeu o mecanismo biológico do câncer, que é causado por uma mutação. Algumas, a minoria, são hereditárias; a maioria se desenvolve pela primeira vez naquele indivíduo”, explica. Como diferentes doenças têm fatores de risco diversos, aos poucos se foi estabelecendo a relação entre os agentes ambientais e os tipos de câncer.
O primeiro associado a fatores externos foi o de pulmão, que tem forte influência do tabagismo. Depois, descobriu-se que determinados vírus, como o papilomavírus humano (HPV) e o da hepatite C tinham relação com câncer do colo do útero e de fígado, respectivamente. “Nas décadas de 1970/1980, estudos observacionais se concentraram na alimentação e, de concreto, verificaram que obesos e pessoas com sobrepeso tinham mais risco de desenvolver câncer.”
Mulheres
O que os estudos têm demonstrado é que o excesso de tecido adiposo produz substâncias inflamatórias (veja Palavra de especialista) e, no caso de mulheres, mimetiza, muitas vezes, o papel de glândulas, estimulando a fabricação de hormônios, o que é particularmente perigoso depois da menopausa. Um trabalho apresentado no congresso 2019 da Sociedade Norte-Americana de Endocrinologia indicou que perder peso reduz o risco de tumores de mama nesse período. Feita com camundongos, a pesquisa constatou que limitar o acesso de fêmeas obesas à comida diminuiu a chance de desenvolvimento desse tipo de câncer.
Segundo os autores, uma das possíveis explicações é que menos gordura estimula uma produção menor de insulina, prevenindo o tumor. “Apesar de ainda tratarmos como uma hipótese, é fato que existem diferentes maneiras pelas quais a obesidade pode aumentar os riscos de câncer em mulheres”, diz o oncologista Daniel Gimenes, do Centro Paulista de Oncologia (CPO), unidade do Grupo Oncoclínicas em São Paulo.
A boa notícia é que, assim como parar de fumar reduz o risco de câncer de pulmão, procurar ficar com um índice de massa corporal saudável faz com que as chances de se desenvolver algum tipo de tumor associado à obesidade volte a ser as mesmas de uma pessoa com peso adequado. “Uma meta-análise que comparou o risco de câncer em 10 mil pacientes obesos e em 20 mil ex-obesos que fizeram a cirurgia de redução de estômago constatou que, dependendo do tipo de câncer, esse risco caiu até 60%. Deixar de ter sobrepeso protege, sim, contra o câncer”, afirma Murilo Buso, do Cettro/Albert Einstein.
Cálculo de IMC
A ferramenta adotada pela OMS para detectar sobrepeso e obesidade, além de baixo peso, é o índice de massa corporal (IMC). Para tanto, basta dividir a altura (em metros) pelo peso (em kg) ao quadrado. O IMC saudável é de 18,5 a 25. De 25 a 30, caracteriza-se sobrepeso e, acima de 30, obesidade.
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