quinta-feira, 10 de maio de 2018

SENHOR, REFÚGIO DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

O mal que hoje nos domina se chama ignorância. É uma ignorância generalizada na humanidade. Assim sendo, é muito difícil se defender do mal e, ao mesmo tempo, fazer uma verdadeira experiência de Deus vivo entre nós. Vejo na nossa Igreja o quanto é difícil fazer uma profunda experiência de comunicação. Dá a impressão de que as instituições que fizeram a opção dos meios de comunicação social e se esqueceram de que comunicação é muito mais que isso. A comunicação não pode se reduzir aos meios porque ela é um processo bem amplo, que envolve relação e respeito ao outro.

Por causa dessa ignorância, não sabemos viver a verdadeira comunicação, que é vida. Uma verdadeira comunicação que liberta o ser humano e lhe permite adquirir uma melhor e objetiva contemplação da vida na perspectiva de Deus. Vivendo sem comunicação, imergimos no mal e vivemos a mentira, assim, nos afastamos de Deus. O salmo 89 das Sagradas Escrituras nos ajuda a resgatar a verdadeira comunicação entre as pessoas e Deus.

“Senhor, fostes nosso refúgio de geração em geração. Antes que se formassem as montanhas, a terra e o universo, desde toda a eternidade vós sois Deus. Reduzis o homem à poeira, e dizeis: Filhos dos homens, retornai ao pó, porque mil anos, diante de vós, são como o dia de ontem que já passou, como uma só vigília da noite. Vós os arrebatais: eles são como um sonho da manhã, como a erva virente, que viceja e floresce de manhã, mas que à tarde é cortada e seca. Sim, somos consumidos pela vossa severidade, e acabrunhados pela vossa cólera. Colocastes diante de vós as nossas culpas, e nossos pecados ocultos à vista de vossos olhos. Ante a vossa ira, passaram todos os nossos dias. Nossos anos se dissiparam como um sopro. Setenta anos é o total de nossa vida, os mais fortes chegam aos oitenta. A maior parte deles, sofrimento e vaidade, porque o tempo passa depressa e desaparecemos. Quem avalia a força de vossa cólera, e mede a vossa ira com o temor que vos é devido? Ensinai-nos a bem contar os nossos dias, para alcançarmos o saber do coração. Voltai-vos, Senhor - quanto tempo tardareis? E sede propício a vossos servos. Cumulai-vos desde a manhã com as vossas misericórdias, para exultarmos alegres em toda a nossa vida. Consolai-nos tantos dias quantos nos afligistes, tantos anos quantos nós sofremos. Manifestai vossa obra aos vossos servidores, e a vossa glória aos seus filhos. Que o beneplácito do Senhor, nosso Deus, repouse sobre nós. Favorecei as obras de nossas mãos. Sim, fazei prosperar o trabalho de nossas mãos.”

Esse salmo demonstra que o mal há como grande referência o tempo, a história da humanidade. É nessa história humana que o mal vai dominando. Para compreender isso, tem que entrar na eternidade de Deus: “Mil anos, diante de vós, são como o dia de ontem que já passou”. O salmista diz que o ser humano é tão dependente de Deus que sua ordem o torna pó. Revelando, assim, a transitoriedade humana. A vida das pessoas é como se fosse um sonho que é interrompido pela morte.

Assim sendo, a existência muito frágil e pobre, o autor a compara como a erva que de manhã floresce e a tarde é cortada e seca. Isto mostra como a morte se impõe na nossa vida. Perante tudo isso se levanta um canto fúnebre de todas as pessoas: o que vale a vida, a existência com todas as suas preocupações se o nosso tempo passa depressa e desaparecemos? O autor do salmo insiste que precisamos confiar em Deus porque somente Ele nos pode dar alegria nesses poucos anos de vida que temos a disposição.
Anos relativos, onde tudo passa e o tempo marca de maneira implacável a sua corrida. Nós totalmente imergidos nesse tempo, que não faz descontos para ninguém, nos deixamos iludir pela eternidade terrena. Portanto, somos convidados a confiar plenamente em Deus para nos dar sentido a esta existência tão frágil e fugaz. O papa Francisco, na mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, nos fala:

“No projeto de Deus, a comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão.” E advertiu o papa: “Mas, se orgulhosamente seguir o seu egoísmo, o homem pode usar de modo distorcido a própria faculdade de comunicar.”

“Sintoma típico de tal distorção é a alteração da verdade, tanto no plano individual como no coletivo. Se, pelo contrário, se mantiver fiel ao projeto de Deus, a comunicação torna-se lugar para exprimir a própria responsabilidade na busca da verdade e na construção do bem”. Acrescentou papa Francisco: “Educar para a verdade significa ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não nos encontrarmos despojados do bem ‘mordendo a isca’ em cada tentação”. Isto também nos ajuda a não aderirmos ao mal, ao poder da mentira que tanto nos aflige e nos escraviza.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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