As realidades terrenas gozam de autonomia. O homem tem liberdade em sua ação. Mas, essa autonomia das realidades terrenas deve sempre ser entendida em relação a Deus. Toda a criação nos leva a Deus. Tudo é obra da criação de Deus. E o ser humano tem a tarefa de continuar a ação de Deus sobre o criado. É preciso, então, superar o vazio cultural em que estamos imersos. Quando a violência aumenta entre nós, significa que estamos parados, inertes. Nessa condição, o ser humano não se exalta como criatura e não auxilia na criação. O ser humano é jogado para baixo. A Palavra de Deus é necessária para o resgate dessa criatura. O salmo 90 das Sagradas Escrituras nos mostra a importância dessa confiança em Deus para nos resgatar e dar segurança à nossa vida.
“Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente, dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio. É ele quem te livrará do laço do caçador, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com suas plumas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te será um escudo de proteção. Tu não temerás os terrores noturnos, nem a flecha que voa à luz do dia, nem a peste que se propaga nas trevas, nem o mal que grassa ao meio-dia. Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita, tu não serás atingido. Porém verás com teus próprios olhos, contemplarás o castigo dos pecadores, porque o Senhor é teu refúgio. Escolheste, por asilo, o Altíssimo. Nenhum mal te atingirá, nenhum flagelo chegará à tua tenda, porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra. Sobre serpente e víbora andarás, calcarás aos pés o leão e o dragão. Pois que se uniu a mim, eu o livrarei; e o protegerei, pois conhece o meu nome. Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória. Será favorecido de longos dias, e mostrar-lhe-ei a minha salvação.”
Esse salmo proclama em voz alta a grande sabedoria em confiar em Deus, autor da vida. É Ele o nosso refúgio, fortaleza, escudo nas lutas do dia a dia. Ele protege e defende o fiel. Com essa convicção, o fiel enfrenta os desafios das trevas, que, segundo a tradição oriental, os espíritos do mal frequentam a noite, não tem medo da super quentura do dia, das doenças que aparecem na população e dos tantos inimigos que se ‘lastram pelo chão’. Deus com os seus anjos a protege e acompanha pelos seus caminhos da vida.
O mal que se insinua na história da humanidade terá o fim, cessará de ser ameaça para os fiéis. Para entender melhor isso, é bom lembrar o que disse Jesus Cristo: “Eis que vos dou o poder de pisar serpentes, escorpiões e todo poder do inimigo, e nada poderá vos causar dano”(Lc 10,19). E a invocação final em que o mesmo Deus confirma que a confiança Nele é que rende mais eficaz a vida do fiel: “O Senhor é teu refúgio. Escolheste, por asilo, o Altíssimo. Nenhum mal te atingirá, nenhum flagelo chegará à tua tenda”.
É a confiança que garante a vida do fiel! Com a confiança em Deus, a história da humanidade se torna elevação, salvação. Esta oração é bem enraizada na realidade do ser humano, que passa também pela sua dramaticidade da existência. Embora as provas da vida acompanhem as pessoas, a certeza da proteção de Deus é muito superior a elas. O papa Francisco, no ‘Angelus’ de 26.02.2017, falou o seguinte:
“Confiar em Deus não resolve magicamente os problemas, mas permite enfrentá-los com o espírito justo, corajosamente. Sou corajoso porque confio em meu Pai que se ocupa de tudo e me ama muito. É o nosso refúgio, a fonte da nossa serenidade e da nossa paz. É a rocha da nossa salvação, à qual nos podemos agarrar, certos de que não caímos; quem se agarra a Deus nunca cai! É a nossa defesa do mal que está sempre à espreita. Deus é para nós o grande amigo, o aliado, o pai, mas nem sempre nos damos conta disto. Não nos apercebemos de que temos um amigo, um aliado, um pai que nos ama, e preferimos apoiar-nos em bens imediatos que podemos tocar, em bens contingentes, esquecendo, e por vezes rejeitando, o bem supremo, ou seja, o amor paterno de Deus. Senti-lo como Pai, nesta época de orfandade, é tão importante! Neste mundo órfão, senti-lo como Pai. Nós afastamo-nos do amor de Deus quando vamos em busca dos bens terrenos e das riquezas, manifestando assim um amor exagerado a estas realidades.”
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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