Getty Images Mal de Parkinson atinge, em geral, pessoas com mais de 60 anos; no Brasil, estima-se que 200 mil pessoas sofram com a doença
Uma equipe científica diz ter encontrado a primeira evidência direta de que o mal de Parkinson pode ser "autoimune". Segundo cientistas, o sistema imunológico atacaria células do cérebro em pessoas que sofrem da doença.
Essa hipótese surgiu pela primeira vez há quase um século, mas até agora não havia informações suficientes para confirmá-la.
A descoberta foi publicada em detalhes na revista científica Nature e mostra que medicamentos indicados para o sistema imunológico podem ajudar a controlar a doença.
- O mal de Parkinson causa danos progressivos no cérebro, que geram tremores e dificuldades de movimento. Em paralelo, o cérebro dos pacientes que sofrem da doença acumula níveis muito altos da proteína alfa-sinucleína.
Os pesquisadores do centro médico da Universidade Columbia e do Instituto de La Jolla para Alergia e Imunologia, nos EUA, descobriram que as células-T, que fazem parte do sistema imunológico, atacam a alfa-sinucleína.
Isso significa que o sistema imunológico de quem sofre do mal de Parkinson identifica essa proteína como um invasor estranho, como se fosse uma bactéria ou vírus, e ataca-a para defender o organismo.
Os cientistas acreditam que, nesse processo, o sistema imunológico acaba matando também células cerebrais boas que acumulam essas proteínas.
"A ideia é que uma falha no sistema imunológico contribui para o mal de Parkinson. Isso é algo que já se suspeitava havia quase cem anos", disse à BBC David Sulzer, um dos pesquisadores da Universidade Columbia. "Até agora, porém, ninguém havia conseguido conectar os pontos".
A pesquisa foi feita com análise do sangue de 67 pacientes com Parkinson para tentar encontrar evidências de autoimunidade.
Outras hipóteses
Sulzer acredita que esse estudo tem forte elo com outra hipótese sobre o mal de Parkinson: a de que a doença poderia ter início no intestino.
"Suspeitamos que as células-T primeiro identificam a alfa-sinucleína no sistema nervoso do intestino, o que não causa nenhum problema. O problema começa quando as células-T entram no cérebro", explicou Sulzer.
"Nossos resultados sugerem a possibilidade de utilizar-se uma estratégia com imunoterapia para aumentar a tolerância do sistema imunológico com relação à alfa-sinucleína, o que poderia ajudar a melhorar ou prevenir o agravamento dos sintomas do mal de Parkinson", agregou o médico Alessandro Sette, da La Jolla.
Para David Dexter, da organização beneficente Parkinson UK, a descoberta dá maior peso à ideia de que o mal de Parkinson pode envolver uma "falha" ou "confusão" do sistema imunológico, que acaba danificando células boas do cérebro para combater a proteína que identifica como invasora.
No entanto, ele faz uma ressalva. "Ainda temos que entender muito mais sobre como esse sistema imune pode estar envolvido na complexa cadeia de eventos que contribuem para o mal de Parkinson."
"Essa descoberta apresenta uma nova via para explorar o desenvolvimento de novos tratamentos que podem amenizar ou até controlar o progresso da doença", afirmou Dexter.
Fonte: Exame
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