Joselma, querida, me perdoe, mas neste exato momento, só consigo pensar na dor de Thaís. Não receba isso como uma indiferença a sua dor e aos seus sentimentos. Posso imaginar como está dilacerada. Entretanto, a dor de perder um pai é algo inigualável, pois, passei por isso. E, como dói. Também presenciei a dor de minha mãe, viúva aos 40 anos, que se enterrou viva, junto como meu pai. Nunca mais conseguiu refazer a vida dela.
Como decantou Vinicius de Moraes: - “Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. Para ela, o amor de meu pai já dura uma eternidade de quase trinta anos. Espero que você consiga refazer sua vida, mesmo guardando eternamente seu amado em um cantinho de seu coração.
Voltando a dor de Thaís, para nós, filhas, esta agonia é interminável, por mais que a vida siga seu percurso natural. Pai, é o que há de mais infinito em nós. Quando Thaís enviou-me um whatsaap, hoje, pela manhã, revivi na dor dela a falta infinita que meu pai me faz, que o tempo (em sua impiedosa rigidez) foi incapaz de curar ou amortecer. Segui em frente, mas sempre me faltando meu alicerce, minha base forte, meu amor maior, transcendental, eternamente infinito.
Em meus ouvidos, até agora, só escuto a dor dilacerante de Thaís a dizer: - Aí, que dor... Realmente, minha querida Thaís, neste momento não temos outra interjeição a não ser esta:
- Aí, que dor...
Particularmente, Antônio Gonçalves Vicente, nosso Tati, foi uma das primeiras pessoas a acreditar no meu valor, a me ensinar a gostar da luta sindical. E, como ele fazia isso tão bem. Lutou e ainda lutava por melhores condições salariais, humanas, acadêmicas e científicas para os professores do Ensino Superior, para os alunos-acadêmicos e por uma universidade pública e de qualidade para todos: professores e alunos.
Não consigo pensar em Tati a não ser na Associação dos Docentes, nas lutas pelo nosso Câmpus de Rondonópolis com mais qualidade de vida acadêmica, docente e científica. Em 2005, quando de uma das mais longas greves dos docentes do Ensino Superior, lá, estava ele no comando (presidente) da Adufmat-Rondonópolis. Na hora de formar as comissões, quando chegou a vez da de Imprensa, nem precisei me pronunciar, pois, logo, Tati falou: -
Três pessoas para a Comissão de Imprensa. Uma pessoa nós já temos: Edileusa Pena. Quem mais? Então, Soraia Miranda e a Professora Márcia, da Geografia, se prontificaram de imediato para as outras duas vagas. Fizemos, durante quase três meses, um belíssimo trabalho, mais do que isso: uma fortalecida amizade.
Hoje, é difícil perceber o Câmpus de Rondonópolis sem a presença irreverente do nosso Professor Tati. Sua irreverência era seu ponto forte. Muitas vezes poderia parecer que tinha uma natureza humana difícil de lidar, mas, atesto: era apenas uma armadura para driblar as adversidades e os hipócritas. Lá, no fundo de seu coração e de sua alma, era um homem nobre, gentil, companheiro, compreensivo, solidário, amável e amigo de seus amigos.
Professor Tati é o tipo de ser humano que não cabe meias verdades. Era intenso, justo, leal, qualidades dos grandes líderes. E, foi sem sombra de dúvida: um dos grandes líderes da UFMT-Rondonópolis.
Infelizmente, nós, seres humanos, e uns mais cruéis que outros, nos acostumamos a rotular as pessoas, sem ao menos concedê-las o benefício da dúvida. Somos, em muitas vezes, impiedosos, maldosos, injustos etecetera e tal.
Todavia, nosso amado Professor Tati, conseguia tirar tudo isso de letra. Botava para escanteio, cabeceava e mandava para o gol. Assim, será em sua transição da vida para a morte. Saí deste mundo de mortais, pecados e pecadores, e segue rumo a outra dimensão.
De lá, continuará, não me restam dúvidas, liderando e à frente das lutas sindicais e de seu lugar ao sol. Daqui, continuaremos a pensar a vida, os amores e tantas outras coisas infinitas e imortais. Até que a nossa hora também chegará.
No entanto, minha querida Thaís, das poucas certezas que tenho na vida, uma delas é que no cotidiano humano frágil e aprazível somos amadores. Definitivamente, não estamos preparados para as finitudes. Também acredito firmemente que Deus e as raras amizades verdadeiras é tudo que temos de único, transceptor e infinito.
Antônio Gonçalves Vicente, nosso Professor Tati por mais de três décadas no Departamento de Matemática, ficará eternizado nas placas de formaturas, na Adufmat-Rondonópolis, nas salas de aulas, nos cursinhos de Matemática, nos sonhos e realidades de cada aluno que passou por suas aulas, nos corredores do nosso Câmpus de Rondonópolis, na Cantina do Chico e, infinita e eternamente nos corações de sua amada (Joselma Pinheiro Gonçalves Vicente); de seus filhos e de seus amigos verdadeiros, a exemplo de Rosa e Laudenir. E, sem nenhuma sombra de dúvida, em meu coração.
Em minha lembrança, um de meus últimos encontros com Tati, em sua casa, em outra situação de greve dos docentes (esta última de 2013), mas também visitando e comemorando a chegada de sua linda netinha. Tão linda no berço a dormir. Este anjo também nunca o esquecerá.
Toda pessoa é única, especial e singular... Sua existência, Tati, será traduzida pelos bons e especiais momentos de convivência com o outro. Sempre a desfrutar nesses breves ou longos, mas raros e especiais encontros, de sua sabedoria e peculiar experiência de vida. Notadamente, a sair, todos nós, transformados por essa rica troca de informações e de conhecimentos. Vamos seguir em frente. Vai em paz, meu amigo, com a certeza infinita do dever cumprido. A Thaís, me solidarizo com a sua dor de filha. De longe, meu carinho e meu colo.
EDILEUSA REGINA PENA DA SILVA – professora pós-doutoranda, jornalista e alguém que aprendeu a amar o Professor Tati do jeitinho que ele era, porque quando o amor/amizade é verdadeiro não se aprecia apenas as qualidades, mas, acima de tudo se respeita as incoerências, contrastes, distinções e diferenças. Isso é Alteridade, respeito ao outro.
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