Evangelho de Lucas 3, 1-6
“No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca da Abilina, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias. Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados, como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías (40,3ss.): Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados. Todo homem verá a salvação de Deus.”
Para compreender melhor esse evangelho é bom saber seu contexto histórico. Lucas fala do grande profeta João Batista, dando-lhe uma conotação histórica bem precisa: no ano 15° do império de Tibério Cesar. Esse imperador governou do ano 14 ao 37 depois de Cristo. No ano 63 antes de Cristo, o império romano conquistou a Palestina. Imagina, portanto, a reação do povo colonizado. As revoltas populares se tornaram constantes, mas naturalmente as poderosas legiões romanas sempre as reprimiam. E para entender melhor também o porquê de José e Maria terem escolhido Nazaré e não Belém, note-se que, do ano 4 antes de Cristo até 6 depois de Cristo, a violência tomou conta da Judeia.
Assim, os romanos a transformaram em uma província romana com o procurador nomeado diretamente de Roma. Pilatos governou do ano 25 até 36. Evidentemente, assim conseguiu ter um maior controle da região, dando mais tranquilidade. Mas, não obstante isso, sempre houve tumultos esporádicos, como foi o caso de Barrabás. É nesse contexto que o Batista aparece como profeta no deserto no ano 28. Por isso, o povo se deixou atrair pela pregação do grande profeta, porque desejoso de uma nova vida. Qual foi essa pregação? Anunciou um batismo de conversão para o perdão dos pecados. A chegada dessa Palavra de Deus, nesse contexto histórico bem definido, traz sempre mudanças radicais.
Entretanto, essa Palavra precisa ser reconhecida como tal, e não só, mas também acolhida. Como naquele tempo, também nós necessitamos de conversão e do perdão dos pecados, que se traduz em mudança de vida, de estilos de vida. De outro jeito, teremos dificuldades de perceber como Deus entra na nossa história. Perante a Palavra de Deus, o ser humano de ontem, de hoje e do futuro deve se deixar questionar para adquirir uma mudança total de vida, para enxergar a salvação de Deus. Lucas termina dando início ao novo êxodo de libertação definitiva, conduzido por Jesus, através da pregação do João Batista. E essa libertação verdadeira é destinada para todos.
Ela consiste em descobrir desde já o amor de Deus para todos nós. Um amor que não descrimina, que não divide e não tem limites para ir ao encontro de todos. Assim estamos vivendo o grande e o definitivo êxodo para a nova Jerusalém. É a boa notícia que nos anima nessa peregrinação terrestre. Ela é concreta, dentro da nossa história, e não pode ser confundida com algo de mítico ou simplesmente com uma fábula. Jesus, o Filho de Deus, veio entre nós, teve uma dimensão temporal como qualquer ser humano nessa terra, e assim essa dimensão se tornou também dimensão de Deus, para salva-la por de dentro dela.
Praticamente, em Cristo, a história do ser humano e a história de Deus se entrelaçam, se unem. O teólogo e pastor luterano D. Bonhoeffer nos diz: “Deus não se envergonha da limitação do ser humano. Ele entra nele, escolhe uma criatura humana como seu instrumento, e cumpre maravilhas, aí onde alguém menos o espera. Deus ama aquilo que é perdido...”. Somos convidados a contemplar já, agora, essa presença de Deus com a mudança da nossa vida. Você acredita nisso? Deixa-se questionar por uma presença de Deus que vai além do seu entendimento?
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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