“Polícia investiga série de mortes em Belém e Ananindeua”. “Jovem é amarrado em poste e espancado até a morte”. “Belém é a quinta capital mais violenta para crianças e adolescentes no país”. “Fim de semana violento deixa 5 mortos na região”. “Homem comete suicídio na Pedreira”. Essas foram manchetes recentes publicadas nos jornais que circulam em Belém. Diante de um cenário como esse, é natural perguntar: por que tantas mortes, tanta violência no nosso meio? De onde vem tudo isso? Por que devemos viver assim amedrontados de tudo? Por que não conseguimos ter paz entre nós? Afinal, o que gera todo esse mal? Devemos viver sempre assim?
Segundo as Sagradas Escrituras, a morte e a dor acontecem por desobediência do ser humano a Deus. Lembre-se da narração do livro do Gêneses em que a criação foi perfeita e o ser humano vivia uma relação perfeita entre eles e a natureza. No entanto, depois que não respeitaram a ordem de Deus, toda essa harmonia caiu. Assim sendo, a Bíblia focaliza a morte e a violência como produto do ser humano enquanto desobediente a Deus, seu Criador. Se formos analisar, a nossa perturbada convivência é produto do egoísmo humano que, evidentemente, revela o afastamento de Deus.
O ser humano autossuficiente, nesse sentido, rompe a equilibrada harmonia de convivência. As relações, tanto com Deus quanto com os outros, são desestabilizadas. Esse é o principio de todos os males. O papa Francisco, na homilia que proferiu em Quito, Equador, no dia 7 de julho, denunciou: “Também nós constatamos no dia-a-dia que vivemos num mundo dilacerado pelas guerras e a violência. Seria superficial pensar que a divisão e o ódio afetam apenas as tensões entre os países ou os grupos sociais. Na realidade, são manifestação daquele «generalizado individualismo» que nos separa e coloca uns contra os outros (cf. Evangelii gaudium, 99); são manifestação da ferida do pecado no coração das pessoas, cujas consequências fazem sofrer também a sociedade e a criação inteira. É precisamente a este mundo desafiador, com os seus egoísmos, que Jesus nos envia, e a nossa resposta não é fazer-nos de distraídos, argumentar que não temos meios ou que a realidade nos supera. A nossa resposta repete o clamor de Jesus e aceita a graça e a tarefa da unidade.” Portanto, quem pode nos resgatar essa situação de afastamento de Deus na nossa vida? É Jesus, o novo Adão.
Esta nova criação, com Jesus, portanto, derruba a morte, a transitoriedade da existência. Seguir Jesus é fonte de vida, confere a vida plena ao ser humano. Sem Jesus, nossa vida ficaria como a de Adão do Gêneses. Ele se preocupou com o pecado, que era estar longe de Deus, rejeita-Lo! E Jesus sempre se manteve fiel a Deus.
Cabe ao ser humano reconhecer-se pecador, continuando assim em sua busca de Deus, acolhendo o dom da fé. Reconhecer-se pecador significa alimentar a humildade de espírito, esta bem-aventurança que permite se abrir para escutar e praticar a Palavra de Jesus. E para testemunha-la.
A lição da Cruz é que nós não seremos salvos pelos nossos méritos, mas porque Deus nos ama! Não nos julguemos previamente salvos, ou santos, mas pecadores em busca de Deus, que se deixam possuir por Ele. A criatura é um ser relacional, com os outros seres e com a criação em seu conjunto. Jesus Cristo é capaz de explicar nossa realidade, pois, como Ele compartilhou nossa condição humana, é viável que cada um de nós o tome como referência para praticar esse caminho que revela nossa realidade.
Dom Helder Câmara, célebre por sua maneira simples e direta de comunicar-se, questionava: “como as pessoas são incapazes de acreditar em Jesus? Como não acreditar em alguém que pisou no chão que pisamos? Como não interpretar que nossa vida não é importante? Não acreditar Nele é não acreditar no ser humano”. Jesus, com sua Palavra, dá-nos um plano de vida que nos conecta à vida em plenitude no Reino de Deus, na prática do amor, da partilha, da generosidade e os sentimentos correspondentes: alegria, paz, compaixão, perdão.
Papa Francisco nos convoca com toda a fé a sermos: “Irmãos, tende os mesmos sentimentos de Jesus: Sede um testemunho de comunhão fraterna que se torne resplandecente! E que belo seria se todos pudessem admirar como nos preocupamos uns pelos outros; como mutuamente nos animamos e fazemos companhia. É o dom de si que estabelece a relação interpessoal; esta não se gera dando «coisas», mas dando-se a si mesmo. Em qualquer doação, é a própria pessoa que se oferece.” Essa realidade pregada e vivida por Jesus é a verdadeira solução para combater a morte e a violência no nossa tão perturbada sociedade.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário