De todas as dúvidas que acompanham a passagem do ser humano neste planetinha belo e frágil, uma das mais difíceis de ser encarada é a que nos coloca entre a continuidade e a insegurança da mudança. De um lado, a certeza do que se conhece, bom ou ruim, satisfazendo ou não as expectativas. Do outro lado, o medo do incerto, do desconhecido, do que poderá ser ou não. Vejo as primeiras saídas das cavernas, abrigos, vilas, continentes, roupas, tecnologias, pensamentos, civilização...Mudanças que mudaram a história.
Naquele Torre de Belém, numa tarde chuvosa, imaginei a ousadia dos marinheiros portugueses. Eles içaram as velas, deixaram o passado, atravessaram o Atlântico e aportaram no Brasil. Em Frankfurt, num aconchegante hotel, fique pensando como os alemães superaram a tragédia nazista e reconstruíram a si mesmos. Na majestosa Kiev, vi ucranianos emocionadamente contarem as vezes em que foram invadidos e conseguiram virar a página de suas vidas. Em Miami, convivi com latinos que romperam grandes amarras étnicas e estão conquistando um novo tempo. Mas, será que todos conseguem enfrentar o desconhecido?
Nassau optou pela construção de um Pernambuco eficiente. Mandela tornou-se o Madiba carinhoso da paz. Dom Hélder resistiu quando resistir significava morrer. Gandhi acreditou no impossível. Joana D'arc lutou pela liberdade. Rondon semeou a Amazônia. São Francisco tornou-se o mais cristão dos cristãos. Maria cuidou do Salvador do mundo. Debussi eternizou a luz da Lua. Dummont conseguiu voar. Aleijadinho fez pedras falarem. Madre Tereza se doou em solidariedade.
Donas de casa lutam pelo pão de cada dia. Estudantes acreditam no futuro. Maridos perdoam esposas. Esposas cuidam dos maridos. Filhos amam os pais. Pastores recusam se prostituírem com o dinheiro dos fiéis. Padres respeitam a batina que usam. Professores acreditam no que lecionam. Soldados honram a farda. Anônimos desse país imenso decidem não se conformar com os defeitos da continuidade. Resolvem experienciar a poesia de Fernando Pessoa, sabendo que navegar para o futuro melhor é mais preciso que a imprecisão da vida. Esse impasse cotidiano, entre a continuidade e a insegurança da mudança, está presente todos os dias. Mas, esse ano, ele ganha um novo nome: Eleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário