terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Nova espécie de anta é descoberta na Amazônia brasileira

Nova espécie de anta é descoberta na Amazônia brasileira. Chamada de "Tapirus kabomani", ela era conhecida pela população local como anta pretinha. Habitante de campos amazônicos com vegetação esparsa, ela é menor e tem a pelagem mais escura que a anta comum no Brasil, a "Tapirus terrestris". Esta é a quinta espécie de anta conhecida e foi descrita no "Journal of Mammalogy"  

Uma nova espécie de anta foi descoberta nos Estados de Rondônia e Amazonas, no Norte do Brasil, e chamada de Tapirus kabomani. Sua descrição foi feita em artigo no "Journal of Mammalogy" em dezembro. Ela era conhecida apenas por comunidades tradicionais e indígenas amazônicos, chamada por eles de anta pretinha.

Ela é a quinta espécie de anta descrita, sendo que a anterior havia sido descoberta em 1865, e é a primeira "Perissodactyla" em 100 anos. Habitante de campos amazônicos com vegetação esparsa, ela é menor e tem a pelagem mais escura que a anta comum no Brasil, a Tapirus terrestris

A descoberta foi feita pelos grupos de pesquisa dos professores Mário Alberto Cozzuol, do Departamento de Zoologia, e Flávio H.G. Rodrigues e Fabrício R. Santos, do Departamento de Biologia Geral, ambos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Os primeiros passos dos estudos que culminariam na descoberta do novo mamífero foram dados em 2003, quando o professor Cozzuol lecionava na Universidade Federal de Rondônia.

"Essa descoberta é muito importante por se tratar de um mamífero de grande porte. A anta pretinha é o maior mamífero da América do Sul descoberto recentemente", aponta Cozzuol.
"Uma das minhas alunas de iniciação científica estava analisando os crânios de algumas antas daquela região, quando percebeu que um deles era diferente dos outros. Como o crânio não é suficiente para descrever uma nova espécie, passamos a trabalhar com outras amostras e segmentos de DNA de diferentes tecidos dos animais coletados, que indicaram que esta espécie era diferente da anta já conhecida no Brasil, a Tapirus terrestris", conta.

Parte do trabalho contou com visitas e entrevistas às comunidades de indígenas, caboclos e ribeirinhos daquela região. "Pudemos observar pegadas e tiramos fotografias. Concluímos que a anta desconhecida da ciência era menor e possuía características diferentes da Tapirus terrestris, como tamanho da cabeça e cor da pelagem", explica o professor Fabrício Santos, que ressalta a importância do conhecimento dos indígenas e comunidades tradicionais para a descoberta de novas espécies de animais.

"As populações daquela região já sabiam da existência da anta pretinha. A percepção que esses povos têm da fauna local é muito boa e esse conhecimento é importante para o entendimento da biodiversidade. Em muitos casos, eles reconhecem a diversidade animal mais que os cientistas", afirma Cozzuol.

 

Preservação 

As antas são importantes para o bioma por agirem como dispersores de sementes e auxiliarem na preservação das florestas e no sustento das populações nativas. A espécie descoberta pelos pesquisadores é mais baixa, uma vez que possui o fêmur mais curto, e menos pesada –atinge cerca de 100 quilos – que aquela mais comumente encontrada no Brasil. Sua pelagem é mais escura e a parte posterior do crânio, mais achatada que a da anta comum.

A "pretinha" foi encontrada em regiões da Amazônia caracterizadas por campos abertos, com menor quantidade de árvores, mas circundadas por mata fechada. No entanto, a distribuição e o habitat específico da nova espécie estão sendo investigados em novo projeto financiado pela Fundação Boticário.

Amparados por relatos da presença dessa espécie em outros locais por diferentes comunidades nativas, os pesquisadores acreditam que a espécie também habite regiões de Bolívia, Colômbia e Peru. "O próximo passo dos estudos é mapear a distribuição da anta pretinha na América do Sul. Aparentemente, a população dela é menor que a da anta que predomina nessa região, mas ainda não podemos prever o número de indivíduos existentes dessa nova espécie. Assim, ainda precisamos estimar a ameaça que ela sofre", explica Fabrício Santos.

O professor Fabrício Santos destaca, ainda, a dificuldade de pesquisas que buscam novas espécies de animais, uma vez que a maioria das pessoas considera que "a descoberta de novas espécies é coisa do passado, que tudo que havia de diferente já foi descoberto. O problema é que se não se faz um estudo sistemático e taxonômico adequado dos animais que parecem ainda desconhecidos, não se descobre nada. As espécies precisam ser bem descritas e estudadas".
Fonte: Uol

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